RECOLHEDORAS USADAS em lavouras de café conilon foram responsáveis por acidentes graves com amputações como a da agricultora Rogéria Silveira, de 42 anos. Ela perdeu parte do braço no equipamento, que não dispunha de sistema de proteção adequado.
O conilon é a principal matéria-prima usada na fabricação do café instantâneo. Para colher o grão, trabalhadores colocam os galhos carregados com o café em lonas estendidas entre os cafezais. O trabalho do maquinário é recolher a lona, que é enrolada em três cilindros, enquanto um triturador separa os grãos de café dos galhos e folhas.
Acidentes podem acontecer, por exemplo, quando esse sistema de cilindros não fixa corretamente a lona que os acidentes acontecem.
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Outro acidente que pode ocorrer é quando um galho fica preso no triturador da recolhedora e o trabalhador empurra o galho com o pé, resultando em amputação da perna.
No dia do acidente de Rogéria, em maio de 2022, a lona estava mal posicionada e ela precisou colocar o braço dentro do equipamento para ajustá-la. Ao invés de prender a lona, a máquina agarrou um dos seus dedos. “No que pegou, eu me apavorei e soltei o comando [que controla o funcionamento]. O cilindro virou e arrancou o braço de uma vez”, conta. “A mão ficou na máquina. Ficaram só duas pontas de osso e um pedaço de pele que rasgou”. Em choque, Rogéria diz que não sentiu dor.
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“Na hora que eu vi, eu já sabia que não tinha como reparar aquele fato. Não adiantava eu ficar me lamentando”, disse Rogéria. “A minha maior dificuldade é em casa, em fazer as coisas da casa. No início foi muito difícil, mas agora a gente vai se acostumando”.
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Desde 2022, quando começaram a ser registrados os acidentes, ocorreram ao menos sete amputações de pernas, braços e dedos e duas mortes. No ano seguinte, ao menos outras duas amputações foram identificadas pela Secretaria de Saúde do Espírito Santo. O estado é responsável por 67% da produção nacional de café conilon.
Jovem morre após ter corpo esmagado pela máquina
Outro caso aconteceu com o trabalhador rural Pablo Henrique Souza Fabem, de 24 anos, que aparece na foto do celular no início desta reportagem. No dia do seu acidente, em junho de 2022, a lona estava mais pesada e difícil de ser presa ao cilindro porque o café estava molhado pela chuva do dia anterior. Por isso, Pablo e o dono da propriedade amarram uma corda na lona para dar aderência ao material.
“Foi tudo muito rápido. A corda e a lona enrolaram na perna dele e ele foi puxado para dentro da máquina”, explica Claudio Rizzo, dono do Sítio Santa Luzia, em Nova Venécia (ES), onde o acidente ocorreu. O produtor correu para desligar o equipamento – que não tinha nenhum sistema de travamento imediato – mas já era tarde. “A perna dele foi decepada na hora e ele ficou todo ferido por dentro”, lembra.
Pablo foi transferido para o hospital Roberto Arnizaut Silvares, em São Mateus, município de referência na região, mas não resistiu e morreu no dia seguinte.
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João dos Santos, enfermeiro do hospital, contou que, no ano da morte de Pablo Fabem, a unidade atendeu outros 11 trabalhadores que sofreram acidentes na recolhedora de café. “O mais comum eram lesões nas falanges [ossos que formam os dedos das mãos]. Em alguns casos mais graves, foi necessário realizar a amputação”, explica.
Indenização e acordo informal
A cerca de 500 metros do Sítio Santa Luzia mora a viúva do trabalhador, Beatriz Fabem, de 23 anos. Ela era casada há 6 anos com Pablo quando aconteceu o acidente. Assim como ele, Beatriz é trabalhadora rural e colhe café e pimenta em propriedades da região. “Eu não sei bem o que aconteceu. Cada um diz uma coisa: que ele passou mal, que ele se enroscou na corda. Eu só sei que foi durante o trabalho com essa máquina”, diz.
Depois do acidente, Beatriz não recebeu indenização mediada pela Justiça. Mas em um acordo informal com dono da propriedade onde ocorreu o acidente ela ganhou a casa onde mora, no valor de R$ 30 mil, e o equivalente a R$ 12 mil pela venda de uma área de pimenta que pertencia ao produtor. Ele é parente do pai de Beatriz.
À reportagem, a jovem mostra algumas fotos de Pablo. Em uma delas, sua preferida, ele aparece sorridente segurando a sobrinha no colo. “Ele sempre foi muito querido e trabalhador”, conta a mãe de Beatriz.
Edição: Bruna Borges