"Será o Benedito" pode ser visitada até o fim de abril na Pinacoteca do Estado (Fotos: Andréa D'Amato)

Congadas, Reisadas, Maracatus, Festas do Divino, de São Benedito, de Nossa Senhora do Rosário e até o raro Parafuso, que só ocorre na cidade de Lagarto, no Estado de Sergipe. São expressões populares, que a fotógrafa Andréa D'Amato estuda e acompanha há oito anos. Agora, seu mergulho na cultura popular pode ser compartilhado com o público: até 29 de abril, é possível conferir a exposição "Será o Benedito?", na Pinacoteca do Estado, em São Paulo (SP). "A maioria das festas vem desde a criação do Brasil. Representam muito bem essa confluência de portugueses, índios, e negros. Qualquer grupo de cultura popular mostra bem o que é o ser brasileiro", explica a autora da mostra.

A intenção de "Será o Benedito?" é entender quem são as pessoas que promovem os festejos populares, ressaltar a individualidade que se esconde por trás do coletivo. Para Andréa, muitas vezes a manifestação folclórica ganha destaque, mas a pessoa que faz tudo isso acontecer fica "escondida". "Em geral, são pessoas de baixa renda, que têm uma vida difícil, mas se dedicam à festa com uma dignidade absurda. É nela que esses homens e mulheres se conectam com o sagrado", define a fotógrafa.

Para conhecer essas pessoas, Andréa costuma procurar quem coordena as manifestações. Mas ela ressalta que a busca de personagens é também subjetiva, passa pela empatia estabelecida com o grupo, que se dá na hora da apresentação. "Pela forma com que a pessoa age e fala, dá para sentir quem é figura forte da festa". Com muitos deles, ela criou laços de amizade. Num próximo trabalho, pretende aprofundar o conhecimento sobre a vida deles fora do ambiente de festa. "Essas pessoas têm muita sabedoria popular, tem uma energia quase santa".

Nome provocativo

São 25 imagens de festas populares em todo o Brasil. Acima, Maracatu de Baque Solto, em PE

A frase popular "Será o Benedito?" – que equivale a um "será possível?!" – para a exposição foi escolhida especialmente como uma provocação. A intenção, segundo Andréa D'Amato, é mostrar o quanto as manifestações tradicionais são importantes e, no entanto, marginalizadas. "A cultura popular precisa ser mais respeitada. É como se estivéssemos falando ‘será que nunca vão ver que isso é o Brasil? Nunca vão olhar para nós?'", explica.

Apesar da crítica, a fotógrafa considera que há uma mudança de postura positiva na sociedade, que tem levado cada vez mais ao reconhecimento de aspectos populares da cultura. "A gestão de Gilberto Gil [no Ministério da Cultura] foi um grande avanço para a cultura popular. As pessoas começam a ver que é isso que nós somos", avalia. "Espero poder também contribuir com esse movimento."