EM TEMPOS DE COP (a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas), um número não sai dos holofotes: 1,5ºC.
Se você tem apenas uma vaga ideia do que esse dado representa, o RB Investiga — programa mensal da Rádio Batente, a central de podcasts da Repórter Brasil — explica por que tanto se fala em limitar o aquecimento global a 1,5ºC em relação ao período pré-industrial, entre 1850 e 1900.
Essa meta foi acordada por boa parte das nações do mundo em Paris, em 2015, e deverá ser revisada no próximo ano, na 30ª edição da COP, que será realizada em Belém.
E não se trata de uma estatística aleatória. Cientistas chegaram a esse número a partir de décadas de pesquisa e simulações climáticas que mostram os impactos de diferentes níveis de aquecimento global. Acima de 1,5ºC, as mudanças climáticas causam danos muito mais graves.
Para se ter uma ideia, atualmente o planeta está cerca de 1,2°C mais quente do que no período pré-industrial. Na verdade, estava: desde agosto do ano passado já temos experienciando o que seria esse mundo 1,5ºC mais quente. Segundo dados do Serviço de Mudança Climática Copernicus, da União Europeia, 2024 é o ano mais quente já registrado na história recente do planeta,
ASSINE NOSSA NEWSLETTER
Para o climatologista Carlos Nobre, é pouco provável que a temperatura volte ao patamar dos 1,2ºC. Para ele, mesmo as metas já acordadas entre os países não são suficientes para evitar um aquecimento ainda maior.
“Talvez na Copa 30 a ciência comprove que a gente já atingiu 1,5ºC. Aí, se nós continuarmos com as metas do acordo de Paris, de reduzir as emissões em 43% até 2030, e zerar as emissões até 2050, nós poderemos atingir 2,5ºC em 2050. Isso é um ecocídio, um possível suicídio para o planeta”, afirmou em entrevista à Repórter Brasil.
Segundo o IPCC, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas das Nações Unidas, se limitarmos o aquecimento global a 1,5°C, os recifes de coral — um dos habitats mais diversos do planeta — vão sofrer um declínio de 70 a 90%. Se o planeta bater 2ºC, mais de 99% deles serão extintos.
Se chegarmos a 2,5ºC já em 2050, como prevê Nobre, vamos perder de 50% a 70% da Amazônia. Uma grande parte do solo congelado da Sibéria, do Canadá e do Alasca, o chamado permafrost, também será descongelado. Com isso, vamos despejar na atmosfera uma quantidade gigantesca de gases de efeito estufa que estão aprisionados ali.
Agora, se a temperatura global aumentar em 4ºC até 2100, grande parte do planeta, incluindo o Brasil, pode se tornar inabitável, especialmente as regiões tropicais e equatoriais.
Parte do último relatório do IPCC, o gráfico a seguir revela como a nossa geração e as gerações futuras terão de lidar com a mudança climática, considerando diferentes cenários de aquecimento.
“A COP 30 vai ser a conferência mais desafiadora até aqui, vai ter que fazer os países concordarem a reduzir muito rapidamente as emissões [de gases do efeito estufa], talvez zerar as emissões líquidas até 2040 no máximo”, afirma Carlos Nobre.
“Se nós fizermos isso a gente pode não deixar passar de 1,5ºC lá por 2.100. Isso é mais sustentável pro planeta”, finaliza.
Sobre o RB Investiga
Produção mensal da Rádio Batente, a central de podcasts da Repórter Brasil, o programa está disponível nas principais plataformas de áudio e no Youtube.
Ficha Técnica
Pesquisa, roteiro e apresentação: Paula Bianchi
Edição de vídeo: Alex Duvidovich
Tratamento de roteiro: Carlos Juliano Barros e Diego Junqueira
Imagens adicionais: ONU e Ministério do Meio Ambiente