Professor recorre à sombra de gameleiras para dar aulas no calorão em PE

Em escola de Paulista (PE), calorão já levou alunos e professores ao hospital; quatro ventiladores por sala não são suficientes para atenuar desconforto; governo promete climatizar 100% das escolas ainda este ano
Por Igor Ojeda | Edição Diego Junqueira
 13/02/2025

AS ALTAS TEMPERATURAS dentro das salas de aula da Escola Estadual Presidente Castelo Branco, em Paulista (PE), região metropolitana de Recife, já fizeram alunos e professores passarem mal e serem levados ao pronto atendimento, conta Wadilson Santiago, um dos docentes da escola.

Localizada no bairro da Mirueira, a instituição não tem aparelhos de ar-condicionado. Antes de os instalar, no entanto, é preciso adequar a rede elétrica, diz o professor. Segundo ele, os quatro ventiladores por sala, em média, não são suficientes para atenuar o desconforto térmico. 

Além da agitação, irritabilidade e falta de concentração, o calor em excesso faz com que os alunos bebam mais água e, portanto, peçam mais para ir ao banheiro. “Eles também ficam com crise de ansiedade, quando ficam com dificuldade de puxar o ar para respirar.” 

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“No ano passado, houve uma situação que até eu me senti um pouco culpado”, conta Santiago, que dá aula de geografia. “Estudamos o texto em voz alta. Debatemos. E não tem como fazer isso com o barulho dos ventiladores. Em vários momentos, eu peço para desligá-los por 10 ou 15 minutos. Houve uma vez em que uma menina do oitavo ano passou mal”, relata. 

Algumas vezes, por causa do forte calor, algumas aulas são dadas no pátio, debaixo de duas grandes árvores gameleiras. “Elas fazem uma sombra considerável. A gente pega as cadeiras, senta em círculo e faz o debate do conteúdo”, diz. Mas, como não há poda regular e sustentável, consequentemente já ocorreram acidentes: pedaços das árvores já atingiram tanto professoras e professores como estudantes. 

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Marcos Vinícius Tributino da Silva, 17, aluno do terceiro ano do ensino médio, afirma que a situação melhoraria caso fossem instalados aparelhos de ar-condicionado. “Não tem como a gente superar esse calor somente com ventiladores.”

“Quando temos aula de educação física, por exemplo, o calor dentro da sala de aula fica impossível. Tanto é que chega a ter vezes que alguns alunos esperam um pouquinho do lado de fora para poder tomar um ar. Isso toma o tempo do professor”, relata o aluno. 

O professor de geografia avalia que o desmatamento em Paulista contribuiu para o aumento das temperaturas nos últimos anos. “Próximo à escola, há uma mata chamada Mata do Frio, porque no meio dela tem uma estrada que, quando você passava, sentia frio. Com a explosão imobiliária, a vegetação de um dos lados foi destruída para dar lugar a um processo de verticalização”, explica.

Em resposta à reportagem, a Secretaria Educação de Pernambuco afirma que existem 437 escolas públicas estaduais climatizadas, sendo mais de 40% dessas “equipadas com ares-condicionados na atual gestão”. A meta, diz a nota, “é climatizar todas as 1.063 escolas até o fim deste ano”.

Ainda segundo a secretaria, o governo pernambucano tem realizado a adequação da infraestrutura elétrica das unidades escolares, incluindo a instalação de subestações de energia nas escolas, e adotado medidas como a instalação ou melhorias de forros e janelas para evitar a fuga térmica, “contribuindo para a manutenção de uma temperatura interna gerada pelos ares-condicionados”. 

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