VOCÊ LEMBRA da “guerra dos bonés” que dominou o Congresso Nacional no início de fevereiro? Governistas chegaram ao parlamento com bonés azuis com a inscrição “O Brasil é dos brasileiros”. Até o presidente Lula entrou na onda, colocando uma foto sua com o boné em seu perfil nas redes sociais.
Parte dos apoiadores do governo comemorou a iniciativa. Porém, fontes ouvidas pela Repórter Brasil avaliam que a campanha de tom nacionalista criada para marcar os dois anos de gestão de Lula pode incentivar a xenofobia contra imigrantes.
“Quando a gente diz que ‘o Brasil é dos brasileiros’, perdemos a memória histórica do nosso país e também ferimos a nossa Constituição, que garante os mesmos direitos a brasileiros, estrangeiros, imigrantes e refugiados”, afirma Roque Pattussi, diretor do Cami (Centro de Apoio Pastoral do Migrante).
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Entre 2010 e agosto de 2024, o Brasil registrou um fluxo migratório de cerca de 2,3 milhões de pessoas, segundo o Boletim das Migrações. Carla Aguilar, gerente do Cami, ressalta que os imigrantes contribuem significativamente para a economia e a sociedade brasileira e defende que as políticas públicas devem promover a inclusão, e não a exclusão e a discriminação.
Pattussi alerta que esse tipo de discurso tem sido usado internacionalmente para fortalecer políticas anti-imigratórias. O acessório remete ao boné vermelho de Donald Trump, que popularizou o slogan “Make America Great Again”. Durante sua campanha presidencial nos Estados Unidos, o boné do agora presidente dos Estados Unidos tornou-se um símbolo da extrema direita e do discurso xenófobo.
“O tema da migração é visto com preconceito, racismo e xenofobia, culpando sempre os imigrantes por todos os problemas que acontecem nos países. Meu receio é que essa campanha possa reforçar essa xenofobia aqui no Brasil”, conclui Pattussi.
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