O uso de trabalho forçado está sustentando as crescentes exportações de carne e sebo bovino do Brasil que chegam a países como os Estados Unidos. Essa é a conclusão de uma investigação publicada na última quarta (24) pela organização americana Corporate Accountability Lab (Laboratório de Responsabilidade Corporativa, na tradução para o português, e CAL, na sigla em inglês).
O relatório “Bullsh*t: Trabalho forçado nas cadeias de abastecimento de carne bovina e sebo do Brasil” reúne casos de trabalho escravo, identificados em colaboração com a Repórter Brasil, na rede fornecedores de frigoríficos que vendem carne e sebo bovino – um subproduto usado na produção de biocombustíveis, cosméticos e alimentos – para compradores norte-americanos.
Os EUA são o principal destino do sebo bovino brasileiro, e as importações de carne bovina aumentaram doze vezes entre 2021 e 2024, aponta a organização. Entre os compradores destacados no estudo da CAL estão a Aramco Americas, subsidiária nos EUA da petrolífera saudita Aramco, e a Diamond Green Diesel, líder na produção de diesel a partir de fontes renováveis no país.
Flagrantes de uso de mão de obra análoga à escravidão relacionados a fornecedores de ambas as empresas foram revelados recentemente em uma reportagem publicada pela Repórter Brasil.
A CAL apresentou uma petição à Alfândega e Proteção de Fronteiras dos EUA (CBP, na sigla em inglês), solicitando que a agência emitisse uma Ordem de Retenção de Liberação para bloquear as importações de carne bovina e subprodutos bovinos brasileiros, incluindo sebo, produzidos em condições de trabalho forçado.
“Embora o sebo bovino seja frequentemente comercializado como um combustível sustentável, sua produção é marcada por abusos trabalhistas, desmatamento e danos ao clima”, afirma Charity Ryerson, diretora executiva da CAL. “A CBP deve agir para garantir que os mercados dos EUA não sejam cúmplices do trabalho forçado ou da destruição ambiental”, complementa.
Neste contexto, a Repórter Brasil reforça a importância de que solicitações específicas para o bloqueio de importações relacionadas ao trabalho escravo não sejam utilizadas como subterfúgio para a imposição de barreiras comerciais amplas motivadas pelas políticas tarifárias norte-americanas ou por outros interesses econômicos.