
Somente no primeiro semestre deste ano, mais de três mil focos de incêndio foram detectados no Pantanal, 22 vezes mais do que no mesmo período em 2023, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Especiais (Inpe). Nos últimos 39 anos, o Pantanal foi o bioma com mais queimadas proporcionalmente a sua área: 9 milhões de hectares pegaram fogo, correspondente a 59,2% do bioma, segundo dados do MapBiomas Fogo. A área mais afetada é o município de Corumbá, no Mato Grosso do Sul.
A principal causa dos incêndios na região é a atividade humana. As mudanças climáticas, provenientes principalmente do desmatamento e agropecuária no país, intensificam as queimadas na região devido às altas temperaturas e à seca prolongada. Além disso, de acordo com o Inpe, a origem dos focos de incêndio neste ano foi 95% em propriedades privadas, que são em sua maioria grandes fazendas dedicadas à pastagem de gado e ao monocultivo.
As condições de trabalho nessas atividades apontam para a relação entre devastação ambiental e exploração laboral no Pantanal. Segundo dados do Ministério do Trabalho e Emprego sistematizados pela Repórter Brasil e pela Comissão Pastoral da Terra, 859 trabalhadores já foram submetidos ao trabalho escravo na região. Dentre eles, 86% trabalhavam na produção de cana-de-açúcar, na pecuária e no plantio de algodão. Os municípios do Pantanal em que mais pessoas foram escravizadas são Poconé e Itiquira no Mato Grosso, seguidos por Porto Murtinho, Corumbá e Aquidauana no Mato Grosso do Sul.
Neste ano, o programa educacional “Escravo, nem pensar!”, da Repórter Brasil, realiza formações para profissionais da Assistência Social do Mato Grosso do Sul sobre trabalho escravo e dinâmicas correlatas, como a degradação ambiental. Até hoje, 107 profissionais de 25 municípios foram formados. Nos próximos meses, eles multiplicarão o conhecimento para os demais profissionais da área e para os usuários dos equipamentos socioassistenciais, contribuindo para identificação e encaminhamento de casos de trabalho escravo no estado às autoridades competentes.
Foto: GOV-MS / Reprodução