Jornais dos EUA destacam escravidão na Flórida

 05/12/2007

Dois dos mais respeitados jornais dos EUA publicaram trechos e resenhas do livro "Nobodies: Modern American Slave Labor and the Dark Side of the New Global Economy" ("Ninguéns: Trabalho Escravo Moderno nos Estados Unidos e o Lado Obscuro da Nova Economia Global"), de autoria de John Bowe.

A obra desqualifica a conduta de executivos da indústria de fast-food que insistem em ignorar as condições degradantes de trabalho nas plantações do estado da Flórida que abastecem as lanchonetes do país. Bowe disseca três casos de flagrantes de descumprimento da legislação trabalhista, incluindo o caso de Ramiro Ramos, que foi descoberto e investigado pela Coalition of Immokalee Workers (CIW), a Coalizão dos Trabalhadores de Immokalee, cidade-referência para o exército que trabalha nas colheitas da região.

"Algo precisa ser dito do capítulo final de Nobodies, um trabalho primoroso e mesclado de idéias, apimentado pela fúria de um homem inteligente que testemunhou tantas instâncias do próverbio do latim, homo homini lupus: o homem é o lobo do homem", diz a resenha publicada no USA Today. "Se você pode ler essa página, você está no topo do mundo e bilhões de pessoas estão por baixo de você", completa o artigo de um dos maiores jornais dos EUA.

Capa do livro que reúne relatos de casos de escravidão nas plantações da Flórida

O renomado Wall Street Journal publicou um trecho grande do livro de Bowe sobre o trabalho escravo nos EUA. "Migrantes que trabalham no campo, quase todos eles do México ou da América Central sem documentos legais, geralmente chegam a este país sem compreender muito bem o Inglês e a cultura norte-americana. Diante do fato de que eles freqüentemente chegam sem muito dinheiro e com poucos conhecidos, o contratador – ou patrão do grupo, como normalmente é chamado – providencia comida, alojamento e transporte para o trabalho. Como resultado, muitos trabalhadores ficam sob controle total dos empregadores", relata o autor em trecho do livro.

NYT
A questão dos trabalhadores da Florida estampou a página do The New York Times (NYT) em artigo assinado por Eric Schlosser, autor do livro "Fast Food Nation". "Os migrantes que trabalham na colheita de tomate no Sul da Flórida têm um dos trabalhos mais extenuantes do país. Por 10 a 12 horas por dia, eles coletam tomates com a mão, ganhando a ínfima remuneração de 45 centavos de dólar para cada cesto de 24,5 kg (32 libras). Ao longo de um dia normal de trabalho, cada migrante colhe, carrega e esvazia duas toneladas de tomates. Pelos seus esforços, podem ser "premiados" nas festas de fim de ano com uma redução de 40% no salário", revela Eric Schlosser.

No último dia 30 de novembro, a CIW organizou um protesto no centro de Miami pedindo o aumento do pagamento para os catadores de tomate. O principal alvo dos protestos foi a rede Burger King, que não aceita o acordo "penny-per-pound" (um centavo de dólar para cada libra) coletada. Nos últimos anos, os trabalhadores conseguiram aumentos semelhantes em negociações com a Taco Bell e com o McDonald´s.

A associação de plantadores de tomate da Flórida, por seu turno, ameaça aplicar uma multa de US$ $100 mil para qualquer produtor que aceite o acordo do "penny-per-pound" para os salários de migrantes. Segundo a entidade, o aumento pode violar "leis antitrustes federais e estaduais", sem dar mais explicações de como um aumento infringe de fato a legislação.

"Os migrantes há muito tempo têm feito parte do segmento mais empobrecido dos trabalhadores. Aproximadamente 80% dos migrantes da Flórida são ilegais e, portanto, são mais vulneráveis a abusos. Durante a última década, o Departamento de Justiça dos Estados Unidos condenou meia-dúzia de casos de trabalho escravo entre trabalhadores rurais da Flórida. Os migrantes têm sido conduzidos a contrair dívidas, ao trabalho forçado por quase nada e a permanecer presos de noite em trailers", descreve o autor do artigo.

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