Ferro Gusa

Siderúrgicas do Pará seguem usando carvão feito com madeira irregular

Empresas Cosipar, Sidepar, Margusa e Gusa Nordeste compram carvão de origem não explicada, vindo de fornos que não estão no cadastro legal das empresas, conforme denúncia divulgada pelo Instituto Observatório Social
Por Bianca Pyl
 23/06/2011

São Paulo (SP) – Grandes siderúrgicas exportadoras do pólo de Carajás, no Pará, têm utilizado carvão feito com madeira de desmatamentos irregulares para fabricar ferro gusa. O produto serve de matéria-prima a montadoras de veículos e fabricantes de eletrodomésticos, de aviões e de computadores. O autor da denúncia é o Instituto Observatório Social, que lançou o estudo "O aço da devastação", nesta quarta-feira (22), em São Paulo.

De acordo com a pesquisa, coordenada pelo jornalista Marques Casara, da Papel Social Comunicação, Cosipar, Sidepar, Margusa e Gusa Nordeste usaram carvão de origem não explicada, vindo de fornos que não estão no cadastro legal das empresas. Há casos de siderúrgicas em que o uso do carvão ilegal sustenta mais da metade de toda a produção.

Para chegar a essa informação, o jornalista pesquisou a produção do carvão forno a forno. A metodologia utilizada foi cruzar o cálculo da capacidade máxima de produção dos fornos com o que de fato foi produzido. Para saber a quantidade de fornos, foi utilizada a lista de fornecedores de carvão que negociaram com siderúrgicas em 2010 (associadas ao Instituto Carvão Cidadão).

"Cruzamos a capacidade de produção de carvão com o total de fato produzido e obtivemos um índice de ilegalidade muito alto", disse Casara. Segundo a pesquisa, a Sidepar, por exemplo, produziu 155% a mais do que é possível de acordo com o número de fornos declarados (2.224). Em reposta ao Observatório Social, o ICC disse que o número correto é 107% a mais.

O problema pode ser ainda mais grave porque há siderúrgicas não associadas ao ICC e que não têm nenhum monitoramento de sua cadeia produtiva. Por outro lado, também há notícias positivas. "Há exemplos de empresas que produzem de forma sustentável, provando que é possível trabalhar de forma correta, respeitando o meio ambiente", acrescenta Casara.

Desde que foi lançada a primeira pesquisa de monitoramento, em 2004, muita coisa avançou na região – de acordo com o jornalista, sobretudo no que tange à questão trabalhista. "O enfrentamento ao trabalho escravo teve êxitos importantes, em boa parte por conta do Instituto Carvão Cidadão". Entretanto, no aspecto ambiental não teria havido avanços. Para resolver a situação, na avaliação do Observatório Social, é necessário elaborar um monitoramento por parte do ICC que não deixe brechas aos que compram carvão ilegal.

A revista relata casos nos quais o carvão é entregue às siderúrgicas sem documento ou com o uso de documentos forjados. Revela ainda como governos municipais e o governo estadual são coniventes com crimes ambientais e trabalhistas, muitas vezes usando aparatos de Estado para acobertar ações criminosas que têm o objetivo de devastar áreas de preservação ambiental e terras indígenas.

A compra de créditos de madeira concedidos a assentamentos rurais direcionados à agricultura familiar também é artifício utilizado para burlar a legislação ambiental. "Um dos esquemas está em operação em Tucuruí. A madeira nunca sai do assentamento, mas por uma triangulação envolvendo madeireiras, empresas agropecuárias e carvoarias, os créditos também são usados para esquentar carvão para o setor siderúrgico", revela a publicação do Observatório Social.

Para ler a revista na íntegra, clique aqui 

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