Uma composição de onze vagões transportando óleo diesel de um trem da mineradora Vale descarrilou e provocou um acidente na última sexta-feira (1) em um trecho da Estrada de Ferro Carajás (EFC), próximo a Buriticupu, no Maranhão. Entidades da sociedade civil locais alertam para possíveis prejuízos sociais e temem que a carga transportada possa contaminar a região, nas proximidades do rio Pindaré, cujo leito fica às margens da ferrovia. Houve vazamento de combustível, mas a companhia afirma que já tomou as devidas medidas de prevenção. As causas do ocorrido ainda não foram esclarecidas.
“A empresa ratifica que não houve danos ambientais. Todas as medidas preventivas realizadas pela empresa, entre as quais a utilização de barreiras de contenção, foram comunicadas à Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Sema) e ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), que acompanharam e avaliaram as ações preventivas de perto”, informa a Vale em nota.
“Mesmo que a Vale diga que está tudo sob controle, sabemos que é impossível reparar tão rápido todos os problemas causados por um acidente desse tamanho”, avalia Malúcia Azevedo dos Reis, do Fórum de Políticas Públicas de Buriticupu e integrante da Rede Justiça nos Trilhos, associação de entidades e movimentos sociais que tem como bandeira, entre outras, a cobrança por mais responsabilidade social da empresa. A organização faz parte de uma série de grupos que foram prejudicados por empreendimentos da companhia mineradora.
Segundo a integrante da Justiça nos Trilhos, um agravante da circunstância é que uma possível contaminação poderia prejudicar os povoados de Vila Labote e Centro dos Farias, nas imediações de Buriticupu (MA) e que estão em torno do rio Pindaré. “Estamos na época da piracema, quando os peixes se reproduzem. As comunidades da região são de ribeirinhos que dependem do córrego para sustento”, aponta. Mesmo que não ocorra vazamento do diesel nas águas do rio, Malúcia se preocupa com possíveis “prejuízos indiretos” do acidente, como degradação do solo e contaminação do lençol freático.
Investigação
“O vazamento não cresceu porque não houve rompimento externo do tanque dos vagões de combustível, mas poderia ter sido maior”, detalha à Repórter Brasil Cilene Brito, chefe da divisão técnica-ambiental do Ibama no Maranhão. “A Vale iniciou as ações emergenciais, mas o Ibama verificará se não ocorrerá nenhum agravo da situação”, explica. Ela aponta que o órgão federal está monitorando a continuidade dos reparos aos danos provocados pelo acidente.
Procurada pela reportagem, a Sema maranhense avisa que também já tomou as providências para verificar as ações da Vale no sentido de evitar a contaminação da região. “A Secretaria vai lavrar um auto de notificação para que a empresa apresente os documentos sobre a carga transportada e o plano de mitigação do acidente”, informa, através da assessoria de imprensa. Além disso, o governo do Maranhão diz que enviou uma equipe ao trecho da ferrovia em Buriticupu para apurar o ocorrido.
O acidente havia interrompido a circulação dos trens pela EFC. Em nota, a Vale afirma que a passagem de trens pela área foi liberada na manhã desta segunda-feira (4).
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