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 06/06/2014

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Nos últimos dez anos, a economia brasileira cresceu impulsionada pelo aumento de renda e pelo crédito mais acessível. Nesse período, a fatia do crédito pulou de 25% para 52% do PIB, tornando o sonho da casa própria e do primeiro carro próximos de milhões de pessoas pelo Brasil afora. Esse retrato fez com que o varejo tenha vivenciado taxas de crescimento próximas a 10%, permitiu que 10% das passagens aéreas sejam adquiridas por integrantes da nova classe média e fez o consumo de energia elétrica crescer mais de 40%. Cerca de 40 milhões de pessoas ascenderam socialmente no Brasil e passaram a ter dinheiro no bolso para avaliar um plano de saúde, consumir mais marcas outrora inalcançáveis e usar mais transporte público. Em 2013, o número de passageiros transportados no metrô paulistano chegou a pouco mais de 7,6 milhões de passageiros. Há 18 anos, eram pouco mais de 2,5 milhões de pessoas transportadas por dia por trilhos na malha metroferroviária do Estado.

Esse cenário aponta para uma tendência inexorável: o brasileiro que melhorou de vida se tornará ainda mais exigente em relação aos serviços prestados, seja por concessionárias de serviços públicos, seja por planos de saúde. As empresas então terão de ficar cada vez mais preparadas para atender a essas novas demandas, o que será o principal desafios delas ao longo dos próximos anos.

Nos setores de serviços, o aumento de escala também tem sido reforçado nos diferentes segmentos, como forma de ampliar a receita, reduzir custos e ampliar a presença em todo o país, com destaque para o Nordeste, em que a renda tem crescido dois pontos percentuais acima da média nacional. Na área de educação, uma das mais beneficiadas com a ascensão social, vários movimentos recentes sinalizam esse cenário.

Em fevereiro de 2013, a Abril Educação desembolsou R$ 877 milhões para adquirir a rede de idiomas Wise Up, de olho na diversificação do portfólio – estima-se que 5% dos brasileiros falem inglês. Já a Estácio pagou cerca de R$ 600 milhões para compra da Uniseb, ingressando no mercado paulista, com mais de 35 mil mil alunos em três campi do interior paulista. A maior operação, no entanto, foi concretizada, em abril do ano passado, quando Anhanguera e Kroton anunciaram a intenção de se unir.

No setor de super e hipermercados o nível de concentração, medido pela participação das cinco maiores empresas no total do faturamento do setor, é de mais de 40%, e tenderá a continuar crescendo por conta do maior volume de investimentos em expansão orgânica e por aquisições. Dentre as cinco maiores, quatro empresas, Pão de Açúcar-Casino, Walmart, Carrefour e Cencosud, são controladas por grupos internacionais. No setor de eletrodomésticos e móveis, a participação dos cinco maiores operadores também é superior a 40% e a presença internacional vem através dos grupos Pão de Acúcar e Casino, que controlam Casas Bahia e Ponto Frio.

No varejo, não tem sido diferente. O Pão de Açúcar mexeu as primeiras peças do tabuleiro, se unindo ao Ponto Frio e depois comprando as Casas Bahia. Depois foi a vez de Ricardo Eletro e Insinuante unirem forças. O Magazine Luiza adquiriu pontos de venda do Baú da Felicidade, do Grupo Silvio Santos, e unidades da paraibana Lojas Maia em nove Estados do Nordeste. Com maior escala, eles ganham maior poder na hora de negociar preços com seus fornecedores, enquanto os consumidores passam a ter escolhas mais reduzidas na hora de compra dos produtos. Essa tendência de consolidação deverá continuar. Isso terá impacto sobre o Conselho Administrativo de Defesa Econômica, sediado em Brasília, cuja tarefa é analisar os casos de fusão e aquisição e avaliar se a concentração de poder terá efeito sobre o mercado de consumo.

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