Confira a íntegra do roteiro do episódio Trabalheira #11

Trabalheira é um programa da Rádio Batente, a central de podcasts da Repórter Brasil, cujo objetivo é discutir o futuro do trabalho
 30/06/2021

Roteiro referente ao programa Trabalheira #11: Quantas “estrelinhas” você merece?

Caju

Ana, você tá ligada que eu sou um músico frustrado, né? Um dos meus sonhos, quando eu era moleque, era tocar esse tema que a gente tá ouvindo do Super Mario Bros – um clássico de videogame que marcou a vida de muita gente – no violão, no piano, ou em em qualquer outro instrumento. Mas a verdade é que o tempo passou… e eu não aprendi. E agora que eu tô batendo nos 40 só me resta tentar tirar essa música no xilofone de brinquedo da minha filha.

Ana

De novo esse golpe, Caju? Esse truque você já usou na temporada passada, acho que no meio da discussão sobre fordismo e uberização. Aliás, foi um truque sujo e baixo, porque tinha uma risadinha irresistível da sua filha de fundo.

Caju

É que eu realmente fico orgulhoso das minhas habilidades no xilofone da minha filha. Posso, então, tocar o tema do Super Mario Bros? Esse eu não consegui tirar de ouvido, tive que procurar no Google as notas…

Ana

Manda bala!

<Caju tocando trilha do Super Mario Bros>

Ana

E eu me pergunto como a Nintendo ainda não descobriu esse talento…

Caju

Pois é, eu já me fiz essa mesma pergunta. Mas bora entrar no tema do programa de hoje que a gente ganha mais! Então, eu trouxe essa referência do Super Mario Bros porque a gente vai debater um conceito que vem ganhando cada vez mais importância no mundo do trabalho: GAMIFICAÇÃO. O termo “gamificação”, claro, vem da palavra em inglês “game”. E o que isso quer dizer? Basicamente, gamificar é usar a mecânica típica de um jogo em uma atividade que não é, por natureza, um jogo. O nosso podcast fala sobre trabalho, mas gamificação é uma técnica que vai muito além disso – dá pra usar da educação ao marketing.

Ana

Como todo mundo tem smartphone, e lida diariamente com tecnologias digitais, a gamificação virou carne de vaca, deu uma banalizada. Essa referência do Mario Bros é bacana porque ajuda a entender quais são os conceitos básicos e como esses recursos podem ser aplicados ao trabalho. 

O Mario Bros sempre tem uma missão pra cumprir, né? Basicamente, ele precisa passar de fase em um tempo pré-determinado. E ao longo do percurso ele vai enfrentando uma série de obstáculos: pula uma ou outra casca de banana, pisa na cabeça de quem quer impedir que ele avance… E também vai acumulando algumas recompensas – pode ser uma moedinha a mais ou um prêmio parrudo que faz com que ele cresça. Agora, se ele mandar mal em alguma tarefa, ele também vai estar sujeito a punições. 

Caju

Rapaz… você falando assim pareceu uma diretora do departamento de RH de uma grande empresa, Ana. 

Ana

Mas essa era a intenção mesmo. E não é à toa que alguns símbolos muito usados no universo dos games foram adaptados pro mundo do trabalho – o lance das “estrelinhas”, por exemplo, usadas pra avaliar se alguém fez um bom trabalho, se prestou um bom serviço. Pensa no motorista do Uber: quantas estrelinhas você dá pra ele depois de uma corrida?

Caju

Sim! A gente vai falar bastante desses aplicativos hoje. Até porque o próprio design dos apps é feito pra estimular essa sensação de gamificação – não só pros trabalhadores, mas também pros consumidores, né? Você pega o celular pra pedir, sei lá, um x-salada… E aí, enquanto navega procurando uma hamburgueria perto da sua casa, parece que você tá jogando Candy Crush. 

Ana

E que bom que você falou de Candy Crush, Caju, porque uma das nossas entrevistadas usou esse joguinho como exemplo. Mas a gente vai ouvir já já – porque agora é hora da vinheta! 

Caju

Fechadíssimo, Ana! Então, seja bem-vindo, seja bem-vinda ao Trabalheira, um programa da Rádio Batente – a central de podcasts da Repórter Brasil. A nossa pegada aqui é discutir os temas mais quentes e atuais sobre o mundo do trabalho de uma forma descontraída e interessante.

Ana

A Rádio Batente tá disponível nas principais plataformas de audio. E também dá pra ouvir pelo nosso site: reporterbrasil.org.br/radiobatente. Lá também dá pra ler o roteiro e achar as referências de músicas, filmes, livros e artigos que a gente cita aqui. 

Vinheta

Renata Paparelli

Gamificar as coisas pode torná-las mais interessantes, pode tornar, por exemplo, a aprendizagem mais desafiadora, pode ser um recurso interessante. A questão não é o recurso, não é a tecnologia. A questão é o seu uso. Como é que esse procedimento tem sido utilizado nas empresas? Com que intenção? Com as transformações que o processo de trabalho vem sofrendo a partir dos anos 1990, as empresas passam a ter a necessidade de seduzir os seus trabalhadores. Dentro dessa nova lógica, com essas palavras que são utilizadas pra designar as pessoas – a lógica dos colaboradores, da visão, da missão. A lógica do “time”, da equipe, do líder. Nessa lógica, o trabalhador, a trabalhadora, eles não são colocados numa situação de quem deve obedecer. Eles são colocados numa situação de quem deve querer. O lema é “eu só quero que vc me queira, não me leve a mal”. Então, a empresa precisa acessar o sujeito no seu desejo, na sua intimidade, no seu afeto. 

Ana

Essa é a Renata Paparelli, professora do curso de psicologia da PUC de São Paulo. A Renata pesquisa há bastante tempo como o trabalho influencia na saúde mental das pessoas. Enquanto ela falava sobre essa lógica que os departamentos de RH das empresas vêm adotando nas últimas três décadas, me vieram vários exemplos à cabeça, Caju. Essa ideia de transformar o trabalho numa espécie de gincana, desenhada não pra impor – de forma autoritária – uma cultura empresarial, mas pra fazer as pessoas vestirem a camisa da firma e se motivarem a fazer um trabalho cada vez mais produtivo, tem que ser colocada em prática de uma forma sutil mesmo.      

Caju

Verdade, eu também visualizei várias cenas na mente enquanto escutava a Renata falar. Acho que a primeira delas foi aquela imagem do escritório decorado num estilo meio parque de diversões temático – uma coisa meio Disney ou meio Hopi Hari, pra usar uma referência mais brasileira, daquele parque do interior de São Paulo.

Ana

Sim! Aliás, sempre que eu vejo essas reportagens de TV sobre empresas que investem em escritórios descolados eu fico com uma certa sensação de “infantilização”, como se o ambiente de trabalho pudesse ficar tão “fun”, pra falar na língua dessas empresas, tão divertido como um parque de diversões, como você colocou. Tem também aquela coisa de colocar mesa de sinuca, pebolim e frigobar pros funcionários, né? Quer dizer, pros colaboradores… 

Caju

Se bem que agora esses escritórios Hopi Hari estão a perigo, né? O que tem de empresa aí anunciando que vai deixar todo mundo de home office pra sempre, mesmo depois que a pandemia passar, é uma grandeza…

Ana

Siiiiim! De qualquer modo, essas imagens são o clichê do conceito de gamificação. Existem uns outros exemplos que talvez ilustrem melhor o potencial da gamificação – como ela pode ser utilizada pros mais variados fins.    

Caju

Por exemplo?

Ana

Tem de tudo, Caju. Empresas que usam softwares de recompensas pra funcionários que economizam dinheiro em viagens de trabalho. Então, se a pessoa deixa de gastar com hospedagem e alimentação, ela joga esse dado num sistema e incorpora ao salário uma parte da grana que ela poupou – ou pode também doar um valor a instituições de caridade. 

Outra área que também usa muito as técnicas de gamificação é a de treinamento de funcionários. No começo do ano, o jornal Valor Econômico publicou uma matéria interessante com uns casos bem… arrojados. 

Um deles é o da Stefanini, uma empresa brasileira importante de TI, que criou uma moeda digital inspirada no bitcoin pra premiar os funcionários que se destacam nos treinamentos internos. A pessoa manda bem na formação e vai acumulando créditos que podem ser trocados por brindes – uma mochila pra notebook, por exemplo – ou por um serviço qualquer prestado por uma empresa parceira.   

Caju

Um exemplo bem famoso – e bem mais simples também – de gamificação é o do funcionário do mês do McDonald’s, né? Quem nunca foi a uma lanchonete do McDonald’s e não ficou olhando por um tempo pro retrato pendurado na parede da pessoa que bateu meta e virou o tal “funcionário do mês”?  

Ana

Funcionário do mês é um clássico! Anos atrás também eram muito comuns aquelas excursões pra hotel fazenda com tudo pago para o melhor vendedor do ano. Esse é outro exemplo de gamificação – uma forma de transformar o trabalho numa competição pras pessoas baterem as metas. Agora, só pra gente não ser o chato da história, e pra ficar em um exemplo específico – no caso, o treinamento de funcionários -, é óbvio que, pra um funcionário que está participando de uma formação, é infinitamente mais interessante participar de uma atividade lúdica do que ficar sentado na cadeira por horas ouvindo um instrutor mala e acompanhando o conteúdo por uma apostila meia-boca. 

Caju

Sem dúvida. Eu diria que, se a gente perguntasse pra dez pessoas o que elas acham desses exemplos que a gente citou agorinha, da mesa de sinuca no escritório à mochila pra notebook como recompensa, eu chutaria que a esmagadora maioria iria dizer que não tem como não achar isso legal, né? É evidente que a gamificação ajuda mesmo a engajar as pessoas e que, no limite, pode  aumentar a produtividade. Não é à toa que isso virou uma tendência usada no mundo todo.

Ana

É isso. A gamificação tende a ser bem recebida  pelos próprios trabalhadores porque ela deixa a jornada de trabalho mais “leve”, por assim dizer. Mas o problema é que sempre tem o tal do “Lado B”, como diz a Renata Paparelli. Vamos ouvir.  

Renata Paparelli

As empresas querem exigir o desempenho de um atleta de alto desempenho. E os atletas de alto desempenho, como eu costumo brincar, eles têm uma carreira curta, se aposentam por invalidez e depois se casam com seus fisioterapeutas porque tem sequelas corporais, diversas sequelas desse processo de trabalho extremamente exaustivo. Então, querem de nós, trabalhadores e trabalhadoras, nada mais, nada menos do que o desempenho de um atleta de alto desempenho de modo continuado. Para isso, a estratégia sedutora – e, no seu interior, a gamificação – são excelentes armadilhas. São excelentes estratégias. 


A questão é quando vem o Lado B. O Lado A é esse: a pessoa está feliz, ela tá subindo, ela cresce, ela bate meta. Ela vende, ela faz, ela acontece. Só que vem o desgaste, né? Porque somos gente… o corpo desgasta, a cabeça desgasta… então, de tanta entrega, uma hora a coisa tem que diminuir o seu ritmo, uma hora, engastalha, né? E aí tem o Lado B: baixo rendimento, a pessoa começa a se transformar num pária, ela começa a entrar no Lado B. E aí ela vai parar no consultório de psicologia, arrasada, porque adoeceu e foi escanteada.

Caju

Não tem jeito… Uma hora a pessoa espana mesmo. Inclusive, isso me lembrou o quarto episódio da primeira temporada do Trabalheira. Uma pausa rápida aqui pra mais um autojabá: pra quem quiser ouvir, o título desse programa é “O trabalho dignifica ou danifica?” E por que eu tô falando desse episódio? Porque ele traz uma entrevista muito boa com uma médica pesquisadora da USP – a Carmita Abdo. Ela coordenou um estudo mostrando um número absolutamente aterrorizante: um em cada cinco brasileiros sofre de burnout – aquela pane geral no nosso sistema, causada especificamente pelo trabalho.

Ana

Impressionante mesmo, Caju. A Renata, que a gente ouviu há pouco, falou de como a gamificação pode ser usada pra estimular os trabalhadores a atingirem metas muitas vezes inalcançáveis, e de como isso pode ser uma fonte de sofrimento psicológico. Agora, transformar a jornada de trabalho em gincana também pode representar um risco não só à saúde mental, mas também à integridade física das pessoas.

Caju

Exatamente. E aí eu acho que o caso dos entregadores de aplicativo é o mais emblemático de como a gamificação pode acelerar a jornada de trabalho e colocar em risco até mesmo a vida das pessoas. Não precisa nem dizer que trabalhar fazendo entrega de moto ou bicicleta no meio do trânsito é uma atividade muito, mas muito perigosa, né? E você sabe, Ana, que eu pesquiso essa questão dos aplicativos há bastante tempo. Inclusive, eu estou em vários grupos de Whatsapp – e é muito interessante acompanhar as discussões entre o povo que faz entrega.

Ana

E o que eles falam sobre esse lance da gamificação, Caju?

Caju

Então… os aplicativos sempre usaram e abusaram desse recurso de recompensa. Mas rolou uma mudança nesse esquema da gamificação. No começo, o negócio era uma gincana escrachada. Algo do tipo: “faça um número xis de corridas em tanto tempo e ganhe um prêmio!” O mais comum era que o prêmio fosse em dinheiro mesmo, uma espécie de bonificação. Mas eu cheguei a ver casos em que o aplicativo dava um voucher – um vale pra ser gasto em loja de eletrônicos ou em supermercado. Agora, você sabe que essa prática de oferecer recompensa é proibida por uma lei federal, né? 

Ana

Sim! E faz todo sentido. Esse tipo de oferta é praticamente um convite pro entregador se acidentar… 

Caju

Em São Paulo, que é a cidade com a maior frota de motos do país, e que é a base da maior parte desses aplicativos, a Prefeitura se reuniu com as empresas em 2019 pra chegar a um acordo e acabar com esse lance das ofertas. E foi a partir daí que os apps deram uma repaginada nesse sistema gamificado de recompensa. Hoje, em vez de oferecer um prêmio específico, a coisa funciona mais ou menos como naquele sistema “dinâmico” do Uber. Ou seja, naqueles momentos de maior demanda pelo serviço, os aplicativos passam a pagar mais pela corrida. E eles dão uma avisada pelo celular do entregador: “Olha, fica ligado que nesse fim de semana vai chover pedido, hein?”. Sobre esse assunto, a gente ouviu o Edgar Francisco da Silva. Ele é o presidente da Associação dos Motofretistas de Aplicativos e Autônomos do Brasil, a AMABR.

Edgar Silva

Referente a essa situação dos incentivos ter parado e tal, continua a mesma coisa. Eles só mudaram alguns quesitos. Antes tinha um determinado horário pra fazer aquela quantidade de entrega e aí quando faltava a última o entregador saía desesperado, que nem um louco. Eles aumentam o valor da corrida, agora não dá mais o horário, mas eles aumentam o valor da corrida… e é mais ou menos a mesma coisa. Se o valor sempre fosse o mesmo… tipo, se o valor que eles aumentam permanecesse, todos eles iam entregar conforme tá acontecendo o dia dele. Agora, quando aumenta só naquele período, principalmente em período de chuva, é onde eles começam a acelerar bastante as motos. 

Quando tá um dia bom, o pessoal fica tudo aguardando, não tem entrega. Aí naquele dia de chuva o pessoal quer suprir… aí, eles começam a correr e aí o entregador é o parachoque da moto, não tem ninguém fiscalizando ele, então, o resultado é esse. Os aplicativos ficam com o bônus e ônus fica com a sociedade de arcar  com toda essa situação aí – de ver o entregador andando na contramão, subindo em calçada, passando em farol vermelho, porque na cabeça dele tudo aquilo lá faz sentido porque ele precisa ganhar o dele. Porque ele não estava ganhando nos outros dias que o valor era menor.

Caju

E o Edgar ainda tocou num ponto muito importante: existe uma diferença entre o motoboy e o motofretista. O motoboy é a pessoa que tem uma moto e que usa essa moto pra fazer entrega. Pra ser motofretista profissional, a pessoa é obrigada a fazer um curso e a ter uma série de itens de segurança na moto que ajudam a atenuar o impacto dos acidentes mais graves. 

Edgar

O problema de tudo aí é a falta de capacitação. Quando você não tem um pessoal capacitado… que nem, tem o motoboy que ele tem habilitação, ele tem a moto e ele faz serviço com a moto. E tem o motofretista: ele tem que fazer um curso de 30 horas, ele tem que ter a moto com a quantidade de ano específico, ele tem uma série de equipamentos de segurança no veículo dele, ele tem os EPIs dele, que é o equipamento de proteção individual. Esse daí tá bem mais preparado pra rua porque é uma profissão de risco. Todo mundo confunde que é só saber de moto que dá pra fazer esse serviço. 

Toda essa situação gera esses demais problemas. Aí você pega uma pessoa que não está capacitada para exercer aquela profissão, e você aumenta o valor pra ela, ela começa a correr. E ela não tem preparo nenhum pra estar correndo daquele jeito. É a mesma coisa que você resolve andar pelas ruas com uma venda nos olhos e aí você começa a correr. Você vai bater em algum lugar. Da mesma forma é esse pessoal sem capacitação, entende?

Ana

É… às vezes, na rua, eu fico olhando essa galera que faz entrega e fico impressionada como os motoboys ficam o tempo todo vidrados no celular – às vezes até pilotando. Isso influencia até na postura corporal – a pessoa sentada na moto, com a coluna envergada, mexendo com o dedo na tela até aceitar uma corrida. Parece aquelas crianças sentadas em frente à TV, jogando videogame na sala.  

Caju

Total! Agora… A gente comentou no começo do programa que a gamificação não é uma técnica usada apenas no mundo do trabalho. E a Renata, nossa primeira entrevistada, fez uma ressalva importante de que a gamificação em si não é um problema – a questão é a forma como ela é usada e a finalidade dela. E aí, Ana, a gente tem um exemplo bem interessante que mostra como a gamificação pode ser aplicada na área da educação pra melhorar o aprendizado, cativar o aluno e etc. A gente conversou sobre esse tema com o Carlos Severo, que é professor do Instituto Federal Sul Rio Grandense, no campus Bagé.

Ele desenvolveu um jogo de tabuleiro chamado “Acidente Zero” pra uma aula sobre segurança do trabalho do curso de técnico em edificações. 

Carlos Severo

O jogo simula um canteiro de obras onde o aluno vai percorrendo esse canteiro de obras a partir de um caminho identificado por símbolos. E esses símbolos representam algumas situações-problema que o estudante pode encontrar na sua vida profissional, que podem causar problemas, como por exemplo: Identificação de acidentes que podem ocorrer na empresa. Identificação de sinalizações, detalhes de risco, por exemplo, que podem ocorrer ao longo da sua jornada profissional. Cada uma dessas situações são identificadas por símbolos que têm cores diferentes nesse tabuleiro e conforme o estudante vai percorrendo esse tabuleiro ele pode então cair em determinada casa dessas que contém o símbolo. Aí ele recebe uma carta e nessa carta está o seu desafio. De acordo com o desafio, ele tem que responder a esse desafio, e à medida que ele vai respondendo a esse desafio ele vai progredindo ao longo do jogo.

Ana

Que ideia sensacional, hein? E esse lance de ser um jogo de tabuleiro é totalmente contra-intuitivo. Hoje em dia, quando alguém fala em jogo, eu já penso em algo eletrônico – mesmo eu tendo curtido muito brincar de War, Detetive e Jogo da Vida. 

Caju

Eu também curtia muito. E só uma curiosidade, Ana, sobre o “Acidente Zero”: o jogo é bem bonito, visualmente falando. O tabuleiro é muito show! Isso porque rolou uma parceria interdisciplinar – eles chamaram os alunos do curso de design e o resultado ficou bem profissional mesmo. Podia passar facinho, sei lá, por um jogo da Grow…

Ana

Que projeto bacana! E como foi a receptividade, Caju? Os alunos gostaram?

Caju

Eu fiz essa mesma pergunta pro professor Carlos Severo. Vamos ouvir.

Carlos Severo

Isso aí foi uma grata surpresa que a gente teve, né? Os estudantes gostaram de trabalhar com o jogo… e o jogo teve um baixo custo de produção. 

A gente pôde perceber que o desenvolvimento da aprendizagem deles melhorou muito. A gente aplicou após essas práticas educativas que foram realizadas, como o uso do jogo, nós aplicamos algumas entrevistas com os próprios professores da disciplina, e algumas entrevistas com os estudantes, e a gente pôde observar que houve um aumento significativo da aprendizagem. Porque se tornou uma aprendizagem mais lúdica, não se tornou aquela aprendizagem mecânica, mais tradicional. É uma proposta lúdica, mais leve. Parece que tira um pouco daquele peso do aprender, principalmente em disciplinas que exigem mais do estudante, disciplinas mais complexas. E a gente nota que o uso desse princípio da gamificação tem trazido resultados bem significativos.

Ana

Bom… esse parece um caso interessante de uso das técnicas de gamificação. Mas você questionou o professor sobre o Lado B dessa história, Caju?

Caju

Sim! A gente falou disso também… E o professor tem uma visão bem ponderada.

Carlos Severo

Toda moeda tem os seus dois lados. 

A gamificação, por exemplo, no mundo do trabalho, nós temos casos, por exemplo, da descoberta de talentos. Pra uma empresa, pode ser interessante uma determinada proposta de gamificação onde busca-se talentos, qualidades no próprio corpo de funcionários da empresa, para que seus funcionários possam, por exemplo, receber treinamento específico e ter uma progressão na carreira – isso seria excelente. Mas por outro lado nós temos essa questão aí onde o empregador pode usar essas mecânicas de jogos em benefício próprio na exploração da mão de obra para simplesmente obter lucros. A gente vê nesses aplicativos. 

A própria questão do motorista… Ele tá terminando – isso aí já aconteceu comigo várias vezes – o motorista está terminando uma determinada (HESITA) corrida… e antes mesmo de terminar essa corrida, chegar no seu destino, já está aparecendo pra ele outras propostas, novas corridas, tentando incentivar cada vez mais a produção. Pode ser uma armadilha… de repente, pode extenuar o profissional – que recebe esses incentivos, mas são incentivos pra ele financeiramente não tem muito retorno, tem mais retorno pra empresa. São algumas jogadas psicológicas, que a gente sabe, algumas armadilhas que podem ocorrer.

Ana

É… parece que pra aprender a jogar esse jogo do mercado de trabalho tem que saber farejar a armadilha. Mas nem sempre é tão simples se safar. Às vezes, a pessoa tá tão envolvida na brincadeira que nem percebe que o negócio vira cilada. Às vezes ela precisa entrar de cabeça no jogo pra poder ganhar mais também, como é o caso desse pessoal que trabalha pros aplicativos. 

Caju

Verdade. Mas acho que hoje já deu game over, hein? Podemos ficar por aqui? Ou quer botar mais uma moeda no fliperama e pegar um continue?

Ana

Acho que tá bom, Caju! Já brincamos demais por hoje. 

Caju

O Trabalheira é uma produção da Rádio Novelo pra Rádio Batente, a central de podcasts da Repórter Brasil. A coordenação geral é da Paula Scarpin.

O roteiro original é do Carlos Juliano Barros, o Caju. O tratamento de roteiro é do Renan Sukevicius.

A edição e a montagem são da Julia Matos. A nossa música tema é composta pela Mari Romano e também pelo João Jabace. O Jabace é da Pipoca Sound e também faz a finalização e a mixagem do programa.

A coordenação digital é da Juliana Jaeger.

Ana

Até a próxima, Caju! 

Caju

Boa! Até a próxima, Ana!



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