A JBS, gigante do setor da carne, anunciou na quinta-feira (16) a suspensão de contratos e futuros negócios com dois fazendeiros que criam gado dentro da Terra Indígena Apyterewa, em São Félix do Xingu, Pará, a mais desmatada do país.
A decisão foi tomada horas após denúncia feita pela Repórter Brasil, que identificou casos em que animais criados de forma irregular na TI eram repassados para propriedades dos mesmos donos fora da Apyterewa, que, por sua vez, vendiam bois para serem abatidos em unidades da JBS e Frigol. As transações são indícios de “lavagem de gado”, prática usada para disfarçar a origem ilegal dos animais.
Entre 2018 e 2022 os pecuaristas Juscelino Dias Moreira e Cleosmar Antonio Turmina, donos, respectivamente, das fazendas Sítio Ipanema e Santa Luzia, ambas dentro da Terra Indígena, repassaram centenas de cabeças de gado para as fazendas Turmina, Gaúcho e Montes Belos. Estas propriedades, que também são deles e ficam fora da Apyterewa, venderam gado para JBS e Frigol até ao menos abril de 2022.
A reportagem entrou em contato com a advogada de Moreira para obter um posicionamento do pecuarista, mas não obteve resposta. A defesa de Turmina não foi localizada.
Em nota, a JBS informou que no momento das compras, as fazendas fornecedoras diretas, ou seja, as fazendas Turmina, Gaúcho e Montes Belos, estavam em conformidade com os protocolos de monitoramento. O frigorífico também afirmou que “entrou em contato com seus fornecedores para pedir esclarecimentos sobre a origem de sua matéria-prima”. Depois da publicação da reportagem a empresa enviou uma atualização e seu posicionamento: “Após esse contato [com os fornecedores], todos os cadastros de fazendas associadas aos dois produtores foram bloqueados”. Leia a íntegra dos posicionamentos da JBS e da Frigol aqui.
Segundo estimativas da prefeitura de São Félix do Xingu, atualmente cerca de 3.000 famílias se dedicam à pecuária dentro da Apyterewa. Enquanto isso, os 729 indígenas Parakanã estão sendo encurralados no próprio território.
O Supremo Tribunal Federal já determinou que os não indígenas sejam retirados do local, mas na prática nada foi feito. Ante a inação das autoridades, a destruição da floresta prossegue: levantamento do MapBiomas feito a pedido da Repórter Brasil aponta que aproximadamente 98% da floresta destruída na área deu lugar ao pasto para criação de bovinos. Uma pequena parcela (180 hectares) virou lavoura.