Trabalheira #15: Do OnlyFans ao Xvideos, será que até o trabalho no pornô foi uberizado?

Já foi o tempo das locadoras e das produtoras de vídeo pornô – a onda agora é "conteúdo adulto" em plataforma online. Mas dá mesmo para falar em uberização? E os riscos à saúde de quem ganha a vida com o sexo – como ficam?
 23/03/2023

Abram alas e, principalmente, tirem as crianças da sala, porque está começando a terceira temporada do Trabalheira! 

A gente inaugura essa nova fase falando do trabalho na pornografia nestes tempos de aplicativos e plataformas digitais. 

Neste primeiro episódio, Ana Aranha e Carlos Juliano Barros discutem como Xvideos, OnlyFans e apps do gênero transformaram a indústria de “conteúdo adulto”. Tem até gente falando que a pornografia foi “uberizada”. Será?

Ouça o episódio na íntegra:

Ficha técnica

Apresentação: Ana Aranha e Carlos Juliano Barros

Roteiro: Carlos Juliano Barros

Tratamento de roteiro: Ana Aranha

Edição, montagem e finalização: Victor Oliveira

Trilha sonora: Mari Romano e João Jabace (Rádio Novelo)

Identidade visual: Débora de Maio

Redes Sociais: Tamyres Matos

Distribuição: UOL

Para falar com a equipe: [email protected]

O Trabalheira é uma realização da Repórter Brasil

Roteiro deste episódio

E1_T3 – Pornografia

Roteiro original: Carlos Juliano Barros

Tratamento de roteiro: Ana Aranha 

Emme White

Tudo o que ela faz no dia, ela registra e joga lá no Onlyfans. Ela vai sair para comer no restaurante, ela vai dar um jeito de ir no banheiro do restaurante, fazer alguma coisa ali. Ela está o tempo todo trabalhando em cima disso e, provavelmente, é alguém também que vai ter conteúdo com outras pessoas… Quanto mais esforço você tiver, você vai ganhar mais! 

Brad Montana 

É o tempo inteiro isso… Mesmo sem colocar o anúncio. Acho que a coisa que mais existe nesse mercado não é nem assinante, é homem querendo ser ator pornô.

Caju

Oh… Ana! Aí vai um aviso importante pra você e pra todo mundo que está escutando a gente, hein? Abram alas – e, principalmente, tirem as crianças da sala porque está começando a terceira temporada do Trabalheira! 

Ana

Fala, Caju! Que bom ta de volta…  E quem diria que o retorno do Trabalheira seria tão polêmico!

Caju

E eu já vou descartando as preliminares pra anunciar que a gente inaugura essa terceira temporada falando de: PORNOGRAFIA! Ou melhor: do trabalho na pornografia. Ou melhor ainda: do trabalho na pornografia nesses tempos de aplicativos e plataformas digitais. Por sinal, a gente abriu o episódio escutando dois nomes consagrados dessa indústria: a Emme White e o Brad Montana. 

Ana

Hoje a gente vai falar de Xvideos, OnlyFans e tem até gente falando que a pornografia foi “uberizada” – será? 

Caju

Acho que essa é uma pergunta que a gente vai tentar responder, né? De todo modo, Ana, o que dá pra garantir é que já foi o tempo da revista de sacanagem e da salinha secreta da locadora de vídeo, hein?  

Ana

Nossa! Falar “revista de sacanagem” é passar recibo de tiozinho, hein, Caju? Ou melhor, cringe.

Caju

E locadora de vídeo, então? Recibo de tiozinho mais do que passado, Ana! 

Ana

Bom, pra quem tá chegando agora no podcast mais cringe do Brasil, a missão do Trabalheira é debater o futuro do trabalho.  A gente ouve diferentes pontos de vista e referências – de economia, de direito, de cultura – pra falar sobre o mundo do trabalho de um jeito diferente.  Não vamos discutir estatísticas de desemprego nem  fazer discurso motivacional sobre como se “colocar” no mercado.

Caju

E hoje o desafio vai ser segurar a onda pra não sucumbir às piadinhas da quinta série, né? 

Ana

Eu juro que vou tentar, Caju, mas grande parte depende de você né….

Caju

Tá, pode me cortar se eu exagerar.

Ana

Mas, olha, essa discussão é bem séria mesmo, ela tem a ver com um mercado que vem atraindo cada vez mais gente e movimentando uma grana alta. Só o OnlyFans, que a gente até já mencionou aqui, tem mais de um milhão e meio de “criadores e criadoras de conteúdo”, como a plataforma chama, que geram mais de 5 bilhões de dólares por ano. 

Caju

Rapaz, é muita grana!   

Ana

É, mas esse mercado tá longe de ser só glamour, né? E ele também envolve alguns riscos. Principalmente pra saúde de quem trabalha diretamente com isso…

Caju

Pode crer, Ana. A gente vai falar disso também! É importante deixar bem claro, logo no ocmeço, que, ao discutir a pornografia no mundo do trabalho, nós NÃO estamos nos referindo a práticas criminosas, como pedofilia, exploração sexual e tantas outras. Estamos falando de adultos com autonomia pra entrar nesse mercado. Como diz a May Medeiros, uma das entrevistadas de hoje, a gente parte do pressuposto de que a pornografia envolve consenso. Ou seja, se uma pessoa, por exemplo, tem imagens íntimas vazadas, sem autorização, por quem quer que seja, isso é abuso, isso é crime… e ponto final, certo? Dito isso, seja bem-vindo, seja bem-vinda ao primeiro dos cinco episódios dessa nova temporada do Trabalheira. Eu sou o Carlos Juliano Barros, o Caju.

Ana

E eu sou a Ana Aranha. O Trabalheira é um programa da Rádio Batente, a central de podcasts da Repórter Brasil. A gente está presente nas principais plataformas de áudio. Mas dá pra ouvir também pelo nosso site – reporterbrasil.org.br/radiobatente. E lá também está o roteiro do episódio… 

(VINHETA)

Brad Montana 

É um cenário bem diferente, desde a captação até a distribuição. Você compreende? Hoje uma única pessoa com um telefone celular, de certa forma, é capaz de fazer o que uma produtora, uma empresa, fazia antigamente, contando com pessoas exercendo diversas funções. Demandava-se mão de obra, portanto. É isso… É um cenário bem diferente. 

Caju

Esse é o Brad Montana. Em 2010, ele começou a carreira de ator pornô depois de vencer um concurso promovido por uma produtora. Quatro anos depois, o Brad resolveu criar a sua própria produtora. No começo, o objetivo era vender os filmes pra canais de TV por assinatura – o mais conhecido aqui no Brasil é o Sexy Hot. Mas hoje o foco do Brad é abastecer o site e vender assinaturas pela internet – uma espécie de Netflix do sexo. “Um cenário bem diferente” de anos atrás, como ele próprio definiu… 

Brad Montana

Eu creio que até a metade ali da primeira década, até 2005, 2006, tinha muita prensa de DVD. Antes disso, teve fita cassete pra caralho, né?

O que que existia pra caralho ali, se você puxar pela memória? Locadora. E as locadoras, as normais, essas de bairros, pequenas, sempre tinham o que ali no fundinho? A locação do filme pornô. Tinham mais de 50 mil locadoras, eu acho, no Brasil, no momento bom desse mercado. E 99% delas, me atrevo a dizer, faziam a aquisição de conteúdo adulto. A banca de jornal também era muito usada para distribuir esse conteúdo. Essa produtora que eu entrei em 2010, através de um concurso, ela distribuía muito agressivamente em banca de jornal, no país inteiro. 

Ana

Nossa… Quando a gente escuta o Brad Montana falando em locadora de bairro, em banca de jornal como ponto de distribuição de DVD pornô, ou em canal pornô de TV a cabo, parece que ele tá descrevendo um cenário pré-histórico, né? Mas isso era bem comum até uns dez, quinze anos atrás… 

Caju

Verdade, Ana. É tudo bem recente. O mercado da pornografia é mais um dos que virou de cabeça pra baixo nos últimos anos, por causa da internet. Aqui no Brasil, por sinal, foram pouquíssimas as produtoras que conseguiram sobreviver a essa revolução digital. Até porque, como o Brad falou, pra produzir e distribuir conteúdo hoje nas plataformas, basta uma ideia na cabeça, um smartphone na mão – e, claro, um certo fogo no rabo, né, Ana?    

Ana

Opa, alerta piadinha ruim de quinta série… 

Caju

Foi mal, Ana. Não resisti!

Ana

Sei… Mas, retomando, outra pessoa que passou a surfar a onda das plataformas, com essa crise das produtoras digamos “tradicionais”, é a Emme White – uma das mais conhecidas atrizes desse meio aqui no Brasil.  

Emme White

Eu acho que hoje é bem melhor – para a gente. Para as produtoras, está sendo péssimo, provavelmente. Mas para a gente é muito melhor. 

Trabalhar para a produtora, para mim, foi importante no começo, porque me ajudou a ganhar um nome. Mas hoje em dia eu ganho muito mais não estando vinculada com produtora, porque na produtora você ganha um cachê apenas. E nesses sites, quando você sobe os seus vídeos, você tem um canal lá, ou OnlyFans, ou sendo camgirl, tudo o que você ganha vai para você. 

Caju

Ana, a Emme falou em “camgirl”… Antes de a gente continuar, acho que seria importante explicar o que isso quer dizer pra quem não sabe do que se trata, né? 

Ana

Sim! Então, o “camming” – esse conceito que vem do inglês – é a prática de se exibir para uma câmera e fazer uma performance erótica. E “camgirl”, claro, é a mulher que ganha dinheiro fazendo isso. Existem algumas plataformas especializadas em “camming” – a mais conhecida no Brasil é a Câmera Privê. A pessoa que quer assistir a uma performance pode fazer isso em grupo ou sozinho. Quanto mais privativo, mais caro custa! 

Caju 

Ana, enquanto você falava sobre “camming”, eu me toquei que é importante fazer uma ressalva. O nosso papo de hoje não fala apenas de “pornografia”. O conceito mais preciso é  “conteúdo adulto”. Eu digo isso porque o “conteúdo adulto” pode incluir sexo explícito, mas também pode se limitar a uma linguagem “erótica”, vamos definir assim. E aí eu tô me referindo a nudes, vídeos sensuais de forma geral – e ao próprio camming. 

Ana

Sim. A Emme White, por exemplo, começou fazendo só camming, sem mostrar o rosto. Antes disso, ela tentou uma carreira artística na dança do ventre, mas decidiu fazer shows privados pra ganhar um pouco mais de dinheiro. Com o passar do tempo, a Emme foi ficando mais à vontade e daí começou a fazer filmes pornôs também. Hoje, ela se define como uma “criadora de conteúdo adulto”.   

Emme White

Hoje em dia, o Only Fans proporcionou uma independência muito grande, assim. Não só o Only Fans, mas também, por exemplo, Xvideos, Pornhub, que são hubs aí de pornografia. O produtor de conteúdo pode ter um canal lá dentro. Então, tudo o que ele subir no canal dele é como se fosse uma espécie de YouTube, onde estão as views que, quanto mais views, mais você ganha. Se os views são através de assinaturas, o valor por view é maior. E no grátis é menor. Mas é importante também ter conteúdo lá no grátis, porque isso é uma propaganda sua para estimular o pessoal a assinar o site.

Emme White 

Aí tem a porcentagem, né? No caso, todas essas plataformas, elas cobram uma porcentagem. 

Emme White

No Onlyfans é 20%. No Câmera Privê já é bem maior, porque é uma outra estrutura, né? Então, as meninas que entram agora lá… é 50%. E as meninas que já estão lá há mais tempo, aí vai num crescente assim dessa porcentagem, você vai ganhando uma porcentagem maior, de acordo com o tempo, e também desempenho. 

Ana 

Dá pra perceber que a Emme é uma super entusiasta dessas plataformas. Aliás, ela citou o Pornhub, e só pra não deixar passar batido, segundo os dados do Pornhub, o Brasil é o décimo país que mais consome pornografia no mundo.

Caju 

Caramba! Mas isso é de acordo com os dados do Pornhub, né? Pode ser que os brasileiros acabem usando mais outras plataformas e ocupando uma posição ainda mais elevada nesse ranking aí do consumo de pornografia…

Ana 

Pode ser mesmo! Mas, voltando à Emme, ela é uma celebridade nesse meio – a ponto de ser reconhecida na rua… Agora, como fica a base da pirâmide? Será que esse mercado da pornografia digitalizada é “democrático”? Será que qualquer um consegue ter sucesso e ganhar dinheiro com isso?

Caju 

Ótima pergunta, Ana. Inclusive, na abertura você chegou a mencionar a ideia de “uberização” da pornografia, justamente por conta desse lance das pessoas se cadastrarem nas plataformas e trabalharem quando e como quiserem – uma típica propaganda da Uber, né? Mas esse conceito não parece o mais apropriado pra definir o que vem rolando no mercado digitalizado da pornografia. A May Medeiros, uma produtora cultural que já participou do BBB e há muitos anos dirige filmes adultos, enxerga um paralelo mais forte com o “star system” – a cultura das celebridades que a gente discutiu na temporada passada, naquele episódio sobre o trabalho de artistas, né, Ana?

Ana 

E outra marca do trabalheira é não deixar de fazer autojabá!!

Caju 

Peixe vendido, Ana. Agora vamos ouvir a May Medeiros.

May Medeiros

Então, você tem lá três celebridades que reforçam a ideia de que você pode ser milionário. E aí você tem um monte de trabalhadores que recebem muito menos. Acho que isso distancia um pouco da lógica dos motoristas por aplicativo e tal, e se aproxima mais do que rola no entretenimento mesmo, sabe? E as plataformas se aproveitam muito dessa lógica. A maioria, inclusive, faz um esquema de investir, ter as celebridades, pegam essas pessoas, fazem uma remuneração maior para essas pessoas divulgarem a plataforma. Então, eu acho que essa é a lógica: essa grande massa de gente que está produzindo conteúdo e que não chega nessa característica de celebridade. Eu acho que ganha muito aquém, sem dúvida nenhuma. Ganha muito, muito aquém, de quem está nesse lugar. Mas essa é a lógica da celebridade, né? 

Ana 

É… faz sentido isso que a May falou… Nesses aplicativos de motoristas e entregadores – que são as plataformas tipicamente uberizadas – não acontece de ter um motorista que ganha infinitamente mais do que os outros. Ele até pode tentar viralizar nas redes sociais, mas ele não vai ganhar mais dinheiro ali, com a mão no volante, por causa da repercussão nas redes, né? 

Caju 

Perfeito, Ana. E tem outra coisa também: no caso dos motoboys, por exemplo, havia ali um mercado de trabalho minimamente regulamentado que os aplicativos quebraram. No caso da pornografia, esse mercado sempre foi meio obscuro, meio marginalizado… Agora, com essas plataformas tipo Xvideos e OnlyFans, isso também vem mudando. A Lorena Caminhas, pesquisadora da Universidade de São Paulo que está fazendo um pós-doutorado sobre esse tema, ajuda a gente a entender melhor esse universo.

Lorena Caminhas

As plataformas de sexo elas vendem, elas comercializam esse conteúdo. Elas fazem essa intermediação, elas reúnem as pessoas que vendem e as pessoas que compram. Mas para as pessoas que vão comprar chegarem nas plataformas pagas, elas passam necessariamente por plataformas de mídias sociais. Sobretudo o Twitter, o Twitter é a principal plataforma de mídia social para quem comercializa sexo e erotismo. 

Então, você tem uma estratificação dentro desse mercado que as plataformas reforçam. E que é aquela lógica do “o vencedor leva tudo”. Quem já tem mais seguidores, quem já é mais bombado nas redes, é quem vai se destacar mais, é quem vai ter mais dinheiro, é quem vai ter mais assinantes e é quem vai ser recomendado pela própria plataforma.

<sfx – barulho de play/stop de toca-fitas> 

Caju 

Tem uma coisa bem contraintuitiva no que a Lorena falou, Ana… Eu imaginava que o Instagram, uma rede social focada em imagem, e não o Twitter, fosse a mais importante para quem quisesse promover conteúdo adulto na internet.

Ana 

Eu entendo que o Instagram é bem importante também, Caju, principalmente para quem é influencer. Mas o Twitter é uma rede social com termos de uso mais “livres”. Não é à toa que tem tanto ódio por lá, né? Principalmente em discussão política… Já o Instagram acaba banindo mais rapidamente fotos e vídeos mais “ousados” ou apelativos mesmo. Mas o interessante é que não dá para separar uma coisa da outra: quem ganha dinheiro com conteúdo adulto hoje com certeza tem uma legião grande de seguidores nas redes sociais convencionais. 

Caju 

Pois é… eu até dei um Google rápido aqui <sfx – som de digitação em teclado>: a Mc Mirella, por exemplo, uma cantora de funk bastante famosa, tem quase 28 milhões de seguidores no Instagram. E tem várias matérias dizendo que ela fatura até R$ 1,5 milhão por mês no OnlyFans – sem fazer pornografia explícita, só com vídeos mais “picantes”… Enfim, parece que esse bolo cresceu e vem crescendo demais, mas tá longe de ser bem repartido. No topo da pirâmide, tem a Mc Mirella. Na base, tem uma espécie de “pornoproletariado”…

Ana 

Uau. “Pornoproletariado”… você que inventou essa palavra?

Caju 

Deu até um trava-língua aqui… fui eu mesmo! 

Ana 

A Lorena não usou esse termo, mas explicou um pouco esse fenômeno

Lorena Caminhas

Pensando em pessoas comuns, você não ter nenhuma passagem ou por mercados eróticos, ou por contas muito acessadas e seguidas no Twitter ou no Instagram… É possível, mas é um caminho muito mais longo. E é muito mais difícil a rentabilidade.

Acho que essa questão de ter muitas pessoas, que, ao mesmo tempo, tem investido nesse tipo de mercado, que nunca tiveram passagem pelo sexo nem pelo erotismo comercial, e que estão vendo nisso uma forma de renda, uma fonte de renda que é muito mais viável, às vezes, de que com o trabalho que elas teriam acesso por CLT, como por exemplo, nessas empresas como vendedora ou atendente. Tem muitas pessoas que têm tentado a sorte dessa forma, mas aí realmente essas pessoas vão estar numa condição realmente dessa correria, dessa viração, dessa produção ininterrupta, dessa busca por seguidores e assinantes. Elas vão ter que pôr muito mais esforço, elas vão ter muito mais dificuldade para ter destaque dentro das plataformas, porque exatamente os números delas não crescem rápido, não é? Eles crescem muito devagarzinho, e elas vão ter que muitas vezes apelar para conteúdos mais explícitos. Elas vão ter que fazer uso de promoções, vão ter que ter um valor muito mais baixo do que uma pessoa que tem muitos seguidores.

Caju 

Ouvindo a Lorena, eu me lembrei de uma coisa que o Brad Montana falou. Ele me disse que vive fazendo convites para mulheres famosas no OnlyFans, pra que elas gravem filmes na produtora dele. Mas elas sempre recusam. O motivo mais importante dessa recusa é, obviamente, o dinheiro. Elas ganham bem mais no OnlyFans. 

Mas tem uma questão de glamour também, que é típico desse mercado de redes sociais. Segundo o Brad, muitas mulheres bem sucedidas no OnlyFans não consideram que estejam fazendo pornografia – ou, pelo menos, a pornografia que o Brad tá acostumado a fazer -, mesmo quando elas postam vídeos de sexo explícito na plataforma.  

Ana 

Mas só por curiosidade, Caju: quanto ganham os atores de filmes pornográficos mais convencionais, como esses que o Brad Montana faz?

Caju 

Eu vou deixar o próprio Brad responder, Ana.

Brad Montana 

Mesmo no momento agora que tem uma caralhada de gente fazendo, vamos falar, de mulheres fazendo, você prestou atenção na negativa que eu falei que eu recebo dessas meninas do Onlyfans? Isso é um balde de água fria em mim. É um balde de água fria. Mas tem sempre meninas para gravar. Não me recordo de ter passado por nenhuma escassez: “ah… fiquei sem produzir nada porque não havia mão de obra”. Isso nunca ocorreu. Agora, obviamente, eu coloco um anúncio procurando atriz, dá uma fila com 12. Se eu boto um anúncio procurando um ator, dá uma fila com 550. Percebe a diferença? 

Olha… o cachê do do homem no vídeo vai de R$ 600 a R$ 1.000 – aqui na minha produtora. Por cena.

A mulher recebe mais. É a tal da lei da oferta e da procura, né? A mulher recebe mais, e aí vai oscilar da mulher de R$ 1.400 a R$ 3.000. Porém, a mulher é comum já fechar dois dias seguidos com ela, entendeu? Então, pelo menos R$ 3.000 inicial, R$ 2.000 e pouco, dá para fazer. 

Ana 

É muito simbólico que essa seja uma das poucas carreiras em que a mulher ganha mais que o homem, né? Agora, olha, moralismos à parte… porque a gente parte do pressuposto que essas pessoas são adultas com autonomia sobre seu corpo, mas eu fico sempre preocupada com outros aspectos que não tem a ver com a remuneração… Como fica, por exemplo, a questão da saúde?   

Caju 

Muito bem lembrado, Ana. A gente tá falando de um tipo de trabalho que expõe os atores e as atrizes a uma série de riscos de contaminação por ISTs – as Infecções Sexualmente Transmissíveis. Hoje em dia, esse é o termo que os profissionais da saúde usam – e não mais DST. A May Medeiros também falou sobre isso.

May Medeiros

Para as performers que fazem conteúdo entre casais, que não é um conteúdo solo, então ela não faz um conteúdo só de masturbação, enfim, ela grava cenas de sexo explícito e, para isso, ela vai precisar ali de uma companhia, aí você entra numa questão grave de saúde mesmo. Porque enquanto você tem uma produtora que está vendendo isso para um canal de TV, que está vendendo isso para uma outra empresa, eu tenho que ter todos os exames de todo mundo, para provar que está todo mundo bem, que está todo mundo apto. saudável para gravar aquilo, para que não não haja nenhum problema posterior. 

Quando as pessoas começam a produzir conteúdo sozinhas, e aí elas convidam alguém para gravar, geralmente gravam em casa, ou que gravem em um outro lugar, mas ali é só as duas pessoas trabalhando, você tem um acúmulo de funções muito maior, sem dúvida nenhuma. E você tem um desprendimento também de “ah… tudo bem! Não trouxe exame? Ok! A gente não precisa fazer contrato, está tudo certo”. Então, essa falta de segurança tem se mostrado pelo menos muito grande entre as pessoas que estão produzindo conteúdo para subir nessas plataformas. 

Ana 

Complicado! E nunca é demais lembrar que a mulher corre muito mais risco nessa brincadeira, né?  Mas infelizmente nosso tempo é curto e a gente já tá terminando.Tem só uma última questão que a gente precisa falar: a pirataria. Claro que isso sempre existiu – tinha fita cassete e DVD pirata a rodo por aí. Mas é inegável que o conteúdo digital nas plataformas é muito mais fácil de ser copiado e espalhado. A Emme White parece não ver solução pra essa questão, viu, Caju? Ela disse que no caso do Xvideos ou do Pornohub, por exemplo, você pode denunciar e pedir pra retirar o conteúdo do ar – como acontece com o Youtube. Já nesses apps de mensagens, o controle fica mais difícil mesmo.

Emme White

É um risco, e já acontece, na verdade…Mas a gente sabe… as pessoas fazem grupos de WhatsApp, Telegram, e aí um vai lá e assina o conteúdo de alguma menina… Tipo, cada um vai lá e assina o conteúdo de uma menina diferente. Eles printam esse conteúdo e jogam tudo nesses grupos. Então vai lá, paga uma assinatura de 10 dólares e está compartilhando para sabe-se lá quantas pessoas naquele grupo ali. Então, a gente já está começando a perder com isso. Existe a pirataria, mas eu não sei sinceramente de que forma isso poderia ser controlado. Eu simplesmente resolvi relaxar. 

Caju

É, Ana… Eu tô curioso pra saber como vai estar esse mercado daqui a cinco ou dez anos, sabia? Vai ser legal gravar um episódio do Trabalheira no futuro pra fazer um balanço dessa história de conteúdo digitalizado. Que plataformas vão continuar existindo? O star system vai continuar de pé? E a pirataria – vai fazer um estrago? Por enquanto, como disse a Emme, é relaxar e..!

Ana 

Se controla, Caju. Piadinha fraca já no fim não dá mais pé, não. Aliás, isso é mais do que motivo pra gente encerrar o expediente por hoje. Na semana que vem tem mais – e o papo é sobre os gamers, aquela galera que joga videogame não apenas por diversão, mas por profissão.

O Trabalheira é um programa da Rádio Batente, a central de podcasts da Repórter Brasil.

O roteiro original é do Carlos Juliano Barros, o Caju.

Caju

E o tratamento de roteiro é da minha amiga Ana Aranha.

Ana 

A montagem e a edição ficam por conta do Victor Oliveira. E as trilhas da vinheta foram compostas pelo João Jabace e pela Mari Romanno, quando este programa era feito em parceria com a Rádio Novelo. A eles, nosso muito obrigado. 

Caju

Valeu, Ana!

Ana 

Até!

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