JBS E VALE ESTÃO ENTRE AS EMPRESAS mais rejeitadas por investidores em ranking mundial da plataforma “Financial Exclusions Tracker”, atualizado nesta quinta-feira (12). O ranking é baseado em informações divulgadas por 93 instituições financeiras globais, incluindo grandes bancos e fundos de pensão. Ele lista quais são as empresas nas quais elas se recusam a investir devido a alegadas práticas nocivas de negócio.
A mineradora brasileira é a que mais recebeu exclusões motivadas por preocupações de direitos humanos. Ao todo, 22 instituições financeiras informam, segundo a plataforma, não realizar negócios com a Vale por conta do tema. Além de enfrentar denúncias sobre o impacto de suas operações em comunidades tradicionais na Amazônia, a empresa teve a sua imagem internacional fortemente abalada pelo rompimento das barragens de Brumadinho e Mariana, em Minas Gerais, que provocaram centenas de mortes.
Questionada pela reportagem, a Vale informou que não comentaria o ranking. A companhia afirmou que “mantém seu compromisso com os princípios do Pacto Global da ONU e reconhece sua importância como orientação fundamental e mecanismo de conformidade para a companhia” e que “desde 2019, a empresa está focada em transformar a organização e melhorar suas práticas em questões ambientais, sociais e de governança”. A resposta da empresa na íntegra pode ser lida aqui.
Já a JBS, uma das empresas mais afetadas pela operação Lava Jato, é a líder global no ranking de exclusões relacionadas a “práticas de negócios” – categoria que inclui vetos de investidores por preocupações relacionadas a corrupção, fraudes e evasão fiscal. A plataforma lista 15 instituições financeiras que rejeitam oferecer apoio financeiro ao frigorífico pelos motivos elencados nesta categoria.
Procurada, a JBS afirmou que o mapeamento “possui falhas na apresentação dos dados” e que não iria se manifestar sobre ele. Também declarou que “possui uma sólida relação com as instituições do mercado financeiro há muitos anos, sendo hoje a empresa do setor de alimentos e bebidas listada na B3 que possui a maior cobertura de analistas de mercado e 100% da recomendação de compra”. A manifestação completa pode ser lida aqui.
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“Esse mapeamento sinaliza que algumas empresas têm um impacto ambiental e social tão grave que estão sendo excluídas do mercado financeiro porque representam um grande risco [para os investidores]”, analisa Merel van der Mark, da Rainforest Action Network – uma das organizações mantenedoras da plataforma.
Outras empresas brasileiras
Na lista das companhias brasileiras com grande número de rejeições aparecem ainda a estatal Petrobras e a Eneva, empresa que tem o BTG Pactual como principal acionista e que produz energia a partir de combustíveis fósseis. Ambas são vetadas por investidores por preocupações relacionadas a direitos humanos e ao aquecimento global.
Petrobras e Eneva não se posicionaram até o fechamento desta reportagem. O espaço segue aberto para manifestações futuras.
“Diligência adicional é necessária para empresas que aparecem neste banco de dados. Esperamos que elas melhorem suas práticas”, afirma Kees Kodde, líder de projeto da Fair Finance International, outra das organizações responsáveis pela plataforma.
De acordo com o mapeamento, o impacto climático é o principal motivo para investidores vetarem negócios com empresas, representando quase metade (48%) das exclusões. O envolvimento de companhias com o setor de armamentos aparece na sequência (15%), seguido pelo envolvimento com a indústria do tabaco (13%), preocupações relacionadas a políticas nacionais dos países onde a empresa atua (6%) e vetos de investimento a outros produtos considerados nocivos (5%), como álcool e jogos de azar.
Os cinco países com mais empresas rejeitadas são Estados Unidos (1.160), China (852), Índia (341), Canadá (290) e Rússia (283).
O ranking é uma iniciativa das organizações BankTrack, Both ENDS, Fair Finance International, Forests & Finance, Health Funds for a Smokefree Netherlands, Milieudefensie (Friends of the Earth Netherlands), PAX, Profundo Research Foundation, Rainforest Action Network e Environmental Paper Network.
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