Sob críticas de ambientalistas, evento em SP debate ‘financiamento responsável’

“Porta de entrada dos investidores para a COP30”, encontro reunirá a partir desta terça-feira (4) signatários de pacto global sobre investimentos com base em critérios ambientais, sociais e de governança; para a organização Florestas & Finanças, compromissos voluntários não resultaram em mudanças significativas
Por Igor Ojeda

INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS de todo o mundo se reúnem, de 4 a 6 de novembro em São Paulo (SP), para debater estratégias de “financiamento responsável”, com base em critérios ambientais, sociais e de governança, conhecidos pela sigla em inglês ESG.

Os organizadores do evento, chamado de PRI in Person, o consideram uma “porta de entrada dos investidores para a COP30”, a conferência da ONU (Organização das Nações Unidas) sobre clima que acontece entre 10 e 21 de novembro em Belém (PA). A Coalizão Florestas & Finanças, que atua contra o financiamento a projetos com violações ambientais e sociais, critica a falta de resultados concretos.

PRI é a sigla em inglês para Principles for Responsible Investment (Princípios para Investimento Responsável), uma espécie de pacto global, apoiado pela ONU, por meio do qual as instituições financeiras se comprometem a seguir princípios de ESG em suas decisões de investimento. Segundo o site da organização, atualmente há mais de 5 mil signatários, representando 139,6 trilhões de dólares em ativos sob sua gestão.

O PRI in Person acontece anualmente, e o encontro de São Paulo será a 17ª edição. Segundo seus organizadores, o evento funcionará como “uma plataforma global para signatários do PRI e lideranças da indústria de investimentos aprenderem, criarem conexões e colaborarem em uma ampla gama de questões ambientais, sociais e de governança”, resumem, em nota enviada à Repórter Brasil.

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A edição deste ano, às vésperas da COP30 de Belém, será “um momento crucial para que investidores institucionais garantam que sua voz seja ouvida pelos formuladores de políticas globais”, completam. Para a organização do evento, quanto mais o aquecimento global se agravar, maior o risco financeiro que os investidores enfrentarão. 

Um dos objetivos do evento é buscar resultados na América Latina e outras regiões do chamado Sul Global, “já que a batalha pelo net zero será vencida ou perdida nos mercados emergentes, que detêm 70% do potencial solar/eólico, mas que receberam (excluindo a China) apenas 15% do total global de investimento em energia limpa no último ano”.

Críticas da sociedade civil

No entanto, para Merel van der Mark, coordenadora da Coalizão Florestas & Finanças, a PRI in Person tem limitações importantes por ser um sistema voluntário e “já teve mais de uma década para provar seu valor”. 

Aliança global de entidades da sociedade civil, entre elas a Repórter Brasil, a Florestas & Finanças atua para impedir que instituições financeiras facilitem violações ambientais e sociais ao financiarem projetos relacionados à produção de commodities.

“Muitos dos mesmos investidores que impulsionam o desmatamento, a perda de biodiversidade e as violações dos direitos indígenas são signatários do PRI — emitem relatórios de sustentabilidade pomposos enquanto continuam suas práticas comerciais habituais”, questiona. “Esse modelo de autorregulação e compromissos voluntários não conseguiu gerar mudanças significativas.” 

Durante o encontro, a Coalizão Florestas & Finanças promoverá o evento paralelo “Perspectivas da sociedade civil sobre os desafios de investir na natureza”. “Vamos expor como os principais financiadores continuam lucrando com projetos destrutivos nos setores de agronegócio, mineração e infraestrutura, e como o conceito de ‘investir na natureza’ é frequentemente usado para financeirizar ecossistemas em vez de protegê-los”, resume van der Mark.

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