Infraestrutura

 06/06/2014

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Há dois movimentos nítidos na área de infraestrutura. Um é liderado pelas grandes construtoras brasileiras, que ao longo das décadas foram construindo um amplo portfólio de projetos contemplando diversos segmentos como energia elétrica, óleo e gás, saneamento, transportes, além de atender à indústria, com obras em petroquímicas, estádios ou fabricantes de bens de consumo. Em paralelo, a sofisticação das obras aumentou. As construtoras tornaram-se então provedoras de soluções completas, amarrando as várias pontas do empreendimento e permitindo que o contratante só apenas ligue a chave (no jargão do setor é o turn key).

Essa ampliação de leques ganhou um outro componente a partir da década de 1990, quando a União e governos estaduais começaram a criar soluções para atrair a iniciativa privada para investir em infraestrutura, seja por meio de concessões, seja por Parceiras Público Privadas (PPPs). Além de oferecer soluções completas para os clientes, essas construtoras passaram a também investir na operação e manutenção de concessões. Ao atuar nesse elo, elas aumentam margens e ganham previsibilidade de receita ao longo da duração dos contratos, o que facilita a política de dividendos e de financiabilidade.

O Grupo Queiroz Galvão abriu em 2011 o capital na Bolsa da QGEP Participações, seu braço para a área de exploração e produção de petróleo, de olho em alavancar oportunidades com o ciclo exploratório do pré-sal. A OAS ingressou ao lado de fundo de pensões como uma das acionistas da Invepar, criada em 2000 para investir no setor de infraestrutura e que no início do ano arrematou em parceria com a empresa sul africana ACSA o leilão do aeroporto de Guarulhos, o maior do país. A Andrade Gutierrez, além de ser uma das principais acionistas da operadora de telefonia Oi, detém participação na Cemig, uma das maiores empresas de energia do Brasil, e está no bloco de controle da CCR, concessionária que atua na área de transportes. A Camargo Corrêa é uma das acionistas da CPFL Energia. A Odebrecht Transport tem de projetos de aeroporto a projetos de metrô e concessões rodoviárias.

Outro movimento nítido é o das empresas que buscam aumento de escala. No setor elétrico, esse movimento tem ganho força: na metade da década passada, a Cemig adquiriu o controle da distribuidora Light, que atua em boa parte dos municípios fluminenses, e tem participação de destaque na Renova, uma empresa de energias renováveis, além de ter participações minoritárias em projetos de usinas hidrelétricas na região Norte, como a Hidrelétrica de Belo Monte.

Recentemente, a Energisa anunciou a aquisição do controle de oito distribuidoras do Grupo Rede, que passava por dificuldades financeiras. Com a operação, a Energisa, que hoje controla 5 distribuidoras de energia, passa a ter 13 concessionárias nesse setor. O número de consumidores atendidos pela Energisa sobe de 2,6 milhões para 6 milhões, e a receita líquida anual, de R$ 2,9 bilhões para R$ 8 bilhões.

Há um outro ponto a ser observado: o ingresso de chineses. Em fevereiro, a chinesa State Grid, em parceria com a Eletrobrás, venceu o leilão para construção das duas linhas de transmissão da usina de Belo Monte à região Sudeste. Com a vitória, a empresa reforçou sua presença entre as cinco maiores do segmento no Brasil. Também em fevereiro, a EDP Energias do Brasil informou ao mercado que vendeu 33,3%, ou seja, metade de sua participação nos direitos de construção da UHE São Manoel (700MW) para a CWEI Brasil, controlada pela China Three Gorges.

Há oportunidades de aumento de escala também em telecomunicações. De acordo com dados da Anatel, em 2003, as quatro maiores empresas brasileiras do setor (Vivo, TIM, Claro e Oi) possuíam 91,86% do mercado. Em 2013, essa participação aumentou para 99,56%. Na Europa, a Telefonica – dona da Vivo – vem adquirindo ações da Telecom Itália, que passa por dificuldades e controla a TIM no Brasil. O Cade já solicitou que a Telefônica se desfaça do controle da TIM ou da Vivo no Brasil, em um prazo que os analistas estimam em 18 meses, mas que foi mantido em sigilo pelo órgão de defesa da concorrência, para não impactar a possível venda de posições. Esse movimento poderá fazer surgir. Assim, em princípio, trata-se de uma questão de tempo para que o Brasil passe a contar com um novo player ou com uma reconfiguração da TIM.

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