A revelação de que migrantes bolivianos trabalhavam mais de 12 horas por dia em oficinas precárias da capital paulista, ganhando em média R$ 5 para costurar peças das marcas de luxo Animale e A. Brand vendidas por valores até 120 vezes superiores, elevou para 37 o número de grifes e varejistas de roupa responsabilizadas pela exploração de trabalho escravo desde 2010.
O levantamento é da base de dados do Moda Livre, aplicativo desenvolvido pela Repórter Brasil que mostra como 119 marcas e varejistas combatem (ou não) esse tipo de exploração na produção da roupa que oferecem aos consumidores.
O app também inclui informações sobre empresas nunca responsabilizadas em fiscalizações do governo. A mais recente atualização, lançada a uma semana do Natal de 2017, inclui pela primeira vez nomes conhecidos no mercado nacional como Topper, Rainha, Timberland*, Reserva, Hope e Mash. O aplicativo para smartphones existe desde 2013 e está disponível gratuitamente para iPhone e Android.
Desde 2010, mais de 400 costureiros e costureiras foram encontrados em condições análogas às de escravos no Brasil. A maioria dos casos ocorre em pequenas confecções tercerizadas, na região metropolitana de São Paulo. As vítimas mais comuns são migrantes de países sulamericanos que trabalham em oficinas em condições degradantes, suscetíveis a incêndios e caracterizadas pela falta de higiene, e que muitas vezes também servem de moradia aos trabalhadores.
Eles recebem valores muito baixos por peça costurada e são submetidos a jornadas exaustivas na esperança de guardar algum dinheiro. Não raro, são obrigados a trabalhar para pagar dívidas fraudulentas com os patrões devido ao financiamento da viagem de seus países de origem até o Brasil.
Como funciona o aplicativo
A Repórter Brasil envia um questionário-padrão a marcas e grupos varejistas de moda em atividade no Brasil. As repostas geram uma pontuação que classifica as empresas em três categorias: verde, amarela e vermelha. As empresas que não respondem ao questionário são automaticamente colocadas na vermelha devido à falta de transparência.
Das 119 marcas monitoradas pelo Moda Livre, 18% estão na categoria verde. São empresas que demonstram ter mecanismos de acompanhamento sobre sua cadeia produtiva, e que possuem histórico favorável em relação ao tema. Na categoria intermediária – amarelo – estão 36% das marcas. Os 46% restantes estão na categoria vermelho, ou seja, não demostraram ou não informaram adotar ações minimamente adequadas para evitar casos de trabalho escravo na produção de suas roupas.
O objetivo do questionário-padrão é avaliar como as empresas monitoram as condições de trabalho de seus fornecedores a partir de quatro indicadores básicos:
• Políticas: compromissos assumidos pelas empresas para combater o trabalho escravo em sua cadeia de fornecimento.
• Monitoramento: medidas adotadas pelas empresas para fiscalizar seus fornecedores de roupa.
• Transparência: ações tomadas pelas empresas para comunicar a seus clientes o que vêm fazendo para monitorar fornecedores e combater o trabalho escravo.
• Histórico: resumo do envolvimento das empresas em casos de trabalho escravo, segundo dados das autoridades competentes.
Além de analisar o histórico e as ações de combate ao trabalho escravo que são tomadas pelas marcas mais relevantes no mercado de moda brasileiro, o Moda Livre também traz uma seção de notícias com matérias da Repórter Brasil sobre trabalho escravo no setor.
É importante ressaltar que o aplicativo não recomenda que o consumidor compre ou deixe de comprar de determinada marca ou loja, apenas garante informação.
*Atualização em 8 de janeiro: A Timberland não respondeu ao questionário-padrão do Moda Livre, mas encaminhou, após a inclusão da marca no aplicativo, uma nota afirmando que monitora a sua rede de fornecedores para garantir o respeito às leis trabalhistas. Veja a íntegra da nota aqui.
A atualização do Moda Livre conta com o apoio da DGB Bildungswerk.