Ministério Público Federal denuncia fazendeiros por trabalho escravo no Piauí

Em uma das propriedades, localizadas na região Sul do Piauí, auditores fiscais do trabalho verificaram que a água fornecida aos funcionários era armazenada em embalagens de produtos químicos
Por Fabiana Vezzali

Dois fazendeiros da região de Uruçuí, no Sul do Piauí, foram denunciados esta semana pelo Ministério Público Federal sob a acusação de explorar trabalho escravo para o cultivo de soja e arroz, além de colocar em risco a saúde dos trabalhadores. Uruçuí faz parte da região do cerrado nordestino que tem sofrido o avanço da monocultura da soja nos últimos anos.

Paula Mazullo, chefe da Delegacia Regional do Trabalho (DRT) no Piauí, afirma que foram resgatadas 37 pessoas em situação análoga a escravidão nessas fazendas. "Desde 2004, esse é o sexto caso de resgate de trabalhadores que verificamos no estado. E todos ocorreram em fazendas produtoras de soja, portanto, vinculadas ao agronegócio."

Para o procurador da República Tranvanvan da Silva Feitosa, autor da denúncia, o aumento desse tipo de flagrante está relacionado à expansão da produção agrícola no cerrado. "O Piauí costuma ser o fornecedor de mão-de-obra escrava para outros estados. Mas há algum tempo verificamos aumento da produção na região sul e mais casos de exploração de mão-de-obra em condições degradantes de trabalho."

Na Fazenda Progresso, de propriedade de Cornélio Adriano Sanders, a fiscalização da DRT, realizada em dezembro de 2005, encontrou vasilhames de produtos químicos sendo utilizados para armazenar a água fornecida aos trabalhadores. Eles haviam sido contratados para fazer a derrubada da mata e a limpeza dos terrenos antes do plantio.

Segundo o texto da denúncia, os fiscais encontraram nas duas fazendas contratação irregular de trabalhadores e condições de trabalho degradantes. "Os trabalhadores ficavam em barracos cobertos com palha, sem proteção lateral, instalações sanitárias, refeitório ou dispensa para guarda de alimentos e cozinha, sendo estes preparados em fogareiros de pedra instalados no chão."

Os fiscais também verificaram que os trabalhadores da Fazenda Trento não recebiam alimentação e eram obrigados a comprar produtos vendidos na cantina da própria fazenda a preços exorbitantes. Depois, não podiam deixar o trabalho até que quitassem essa dívida. Além disso, os trabalhadores eram contratados com a promessa de que receberiam salário fixo, mas tinham seus salários reduzidos na época das chuvas porque não era possível limpar o terreno.

Na Progresso, os trabalhadores cumpriam uma jornada excessiva, das seis horas da manhã até as cinco horas da tarde, todos os dias da semana, e tinham apenas 20 minutos de intervalo para o almoço. Entre os resgatados nesta fazenda, havia um adolescente de 15 anos de idade. Nas duas propriedades, botas e ferramentas de trabalho – que deveriam ser fornecidas gratuitamente – eram vendidas a preços altos.  

A ação apresentada pelo MPF denuncia além de Cornélio Adriano Sanders, Peter Trento, dono e administrador da Fazenda Trento, e Antoninho Trento, Airton, Adelson Pimentel dos Santos, Luis Pereira da Silva, Ademir e Zé Ivan – funcionários das fazendas. 

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