Petrobras perde espaço para multinacionais no pré-sal

Petroleiras estrangeiras e empresas médias produziram, no Brasil, 581 mil barris diários, um aumento de 25% em relação a 2016, enquanto a participação da Petrobras caiu 3,7 pontos percentuais.
Por Roberto Rockmann
 22/05/2018

A retomada dos leilões sob as novas regras e o processo de desinvestimento da Petrobras deverão reduzir a fatia da estatal na produção de petróleo no país e marcar o reforço da presença das multinacionais no Brasil. Levantamento da ANP aponta que a produção da Petrobras em 2017 atingiu no Brasil 2, milhões de barris por dia, 77% do produzido no Brasil. A segunda maior produtora é a Shell, com 11,64%, e a Repsol Sinopec em terceiro, com 2,95%.

Petroleiras estrangeiras e empresas médias produziram, no Brasil, 581 mil barris diários, um aumento de 25% em relação a 2016, enquanto a participação da Petrobras caiu 3,7 pontos percentuais. A parcela da Petrobras deverá cair ainda mais nos próximos anos, com o novo cenário que combina regras mais atraentes para as petroleiras estrangeiras e necessidade de redução do endividamento da estatal. Em 10 a 15 anos, a Petrobras poderá ter sua participação reduzida para 60% ou 70%, aponta o ex-diretor da ANP entre 2011 e 2015, Helder Queiroz.

A estatal também deverá assistir a um novo cenário no parque de refino. No auge da euforia com o pré-sal, a estatal anunciou planos para colocar de pé quatro novas refinarias, de olho em processar o abundante petróleo recém-descoberto e industrializar o país. Foram anunciadas uma refinaria e um parque petroquímico no Rio de Janeiro, um em Pernambuco, um no Maranhão e outro no Ceará, esses dois últimos voltados à produção de combustível com menor teor de enxofre, produto premium.

Quase uma década após o anúncio, apenas a refinaria de Pernambuco está operacional. O parque do Rio de Janeiro poderá ter as obras aceleradas em breve, mas as duas unidades do Ceará e do Maranhão acabaram abandonadas. “Esses dois projetos nunca tiveram seus projetos entregues à ANP. Foi um auge, a empresa ficou décadas sem construir uma refinaria e resolveu fazer quatro ao mesmo tempo”, analisa Queiroz.

A crise e a política de controle de preços entre 2009 e 2014 tiveram impacto sobre a área de refino. O Brasil fechou 2017 refinando uma média de 1,741 milhões de barris por dia de petróleo. Isso significa uma redução de 17,5% em quatro anos, de acordo com dados da ANP. O motivo da queda é o aumento das importações — não pela Petrobras, mas por terceiros. Esse fato aumentou a capacidade ociosa das refinarias brasileiras. Era de 2% em 2014; hoje, é de 21%.

Atingida pela Operação Lava Jato, a Petrobras agora busca associação com empresas estrangeiras para levar adiante projetos de refino. Isso marca uma inflexão na estratégia de aumentar o valor agregado da produção do pré-sal, que com a maior presença de empresas estrangeiras tende a ser exportado sem ser processado, ou seja, com menos dinheiro sendo feito no Brasil. Isso coincide com os efeitos da Operação Lava Jato sobre o mercado de construção pesada.

Estrangeiros aumentam presença em infraestrutura

O setor de infraestrutura passa por uma ampla reformulação, a maior desde o processo de concessões e privatizações iniciado na metade da década de 1990, quando as grandes construtoras brasileiras — Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa e Odebrecht — participaram do processo, ampliando seus tentáculos.

Duas décadas depois, sob o impacto da redução dos investimentos públicos, Operação Lava Jato e crise da Petrobras, empreiteiras de menor porte, fundos soberanos, investidores de private equity e novas concessionárias europeias, norte-americanas e asiáticas deverão ampliar sua presença no Brasil, diante das oportunidades.

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A redução da participação das grandes construtoras brasileiras no mercado nacional e o ingresso de novos players, pelo processo de desinvestimento da Petrobras e outras oportunidades, terão impacto sobre o mercado de bens de capital e engenharia da América Latina e África, onde o Brasil detém relevante presença.

A troca de cadeiras e a perda de poder das grandes construtoras podem gerar impactos além do Brasil. Segundo estudo da LCA Consultores, na América Latina, o Brasil é vice-líder na exportação de serviços de engenharia, com 18% de participação, atrás apenas da Espanha, com 30%.

A China hoje é o terceiro maior participante desse mercado. A principal ameaça é de que o país asiático expanda ainda mais seus contratos no exterior, com os investimentos na América Latina e na África e com os reflexos da Lava Jato, que poderá reduzir o tamanho das empreiteiras brasileiras.

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