Trabalho escravo

Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de SP convoca donos da Le Lis Blanc

Diretores do grupo Restoque são convocados a explicar na Assembleia Legislativa de SP flagrante de escravidão na produção de roupas das marcas Le Lis Blanc e BourgeisBohême
Por Daniel Santini
 14/08/2013

Diretores do grupo Restoque terão que prestar esclarecimentos à Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de São Paulo sobre o flagrante de trabalho escravo na produção de peças das marcas Le Lis BlancBourgeisBohême, a Bo.Bô. Ao todo, 28 pessoas foram libertadas em fiscalização realizada em junho em três oficinas que produziam roupas das duas grifes de luxo. Os costureiros, todos bolivianos, viviam em condições degradantes, estavam submetidos  a jornadas exaustivas e servidão por dívida. Segundo as autoridades, além de submetidos à escravidão, todos foram vítimas de tráfico de pessoas. Entre os resgatados está uma garota de 16 anos.

Tapumes de madeira ao fundo servem de parede. Foto: Anali Duprê

Os diretores terão que comparecer ao plenário Teotônio Vilela, na Assembleia Legislativa na terça-feira, dia 20, às 14h. A sessão deve contar com a presença do auditor fiscal Luiz Alexandre Faria, que participou da ação. Apesar das três oficinas em que foram flagradas as irregularidades serem “quarteirizadas” – elas vendiam a produção para intermediárias, que repassavam para a Restoque -, o auditor diz que não há dúvidas sobre a responsabilidade do grupo. Não só, segundo ele, foi caracterizada terceirização da atividade fim, o que por si só já configura a responsabilidade do grupo, como também nesse caso ficou evidente a ligação direta da empresa com a organização da linha de produção. Conforme as autoridades, toda cadeia produtiva estava baseada em encomendas da Restoque. Ele estima que 90% das encomendas das intermediárias eram da grife e que 100% da produção das oficinas era de peças da marca.

A convocação foi feita pelo deputado estadual Carlos Bezerra Jr. (PSDB), autor da lei paulista nº 14.946/2013, que determina a cassação de registro de Impostos de Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) de empresas flagradas com trabalho escravo. Por conta do flagrante, a Restoque pode ficar impedida de comercializar roupas no Estado de São Paulo nos próximos dez anos, prazo em que o ICMS da empresa fica suspenso. A lei foi regulamentada pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB) em maio e vale para todas empresas flagradas desde então.

Nos depoimentos às autoridades, alguns dos costureiros afirmaram cumprir regularmente jornadas de até 12 horas e trabalhar sem descanso semanal. Eles disseram ainda receber entre R$ 2,50 a R$ 7 por peças que, nos shoppings, são vendidos por muito mais. Uma calça da Le Lis Blanc pode chegar a custar R$ 1.999,50, uma saia R$ 1.350,00, e um vestido R$ 999,50. Já da Bo.bô, há calças por até R$ 998,00, saias por R$ 1.448,00 e vestidos por R$ 3.368,00.  Em casos excepcionais, para peças delicadas e de difícil corte, costureiros experientes afirmam ganhar até R$ 30.

Leia também:
Especial: flagrantes de trabalho escravo na indústria têxtil no Brasil
Roupas da Le Lis Blanc são fabricadas com escravidão
Fiscalização liberta trabalhadores que produziam roupas para grife Bo.Bô

Fiscais flagram escravidão envolvendo grupo que representa a GAP no Brasil
Roupas da Zara são fabricadas com mão de obra escrava
Sweating system, trabalho escravo contemporâneo no setor têxtil

APOIE

A REPÓRTER BRASIL

Sua contribuição permite que a gente continue revelando o que muita gente faz de tudo para esconder

LEIA TAMBÉM