Síntese das Atividades da Repórter Brasil em 2024

Desde 2001, quando foi fundada, a Repórter Brasil fomenta a reflexão e a ação sobre violações dos direitos fundamentais dos povos e trabalhadores no Brasil. Suas reportagens, pesquisas e metodologias educacionais têm sido usadas por lideranças do poder público, do setor empresarial e de movimentos sociais como instrumentos para mudar a sociedade. Por seu trabalho, a organização tornou-se uma das mais importantes fontes de informação sobre trabalho escravo e tráfico de pessoas no país.

A Repórter Brasil mantém três programas permanentes, com lideranças e equipes próprias: o Programa de Jornalismo e o Programa de Pesquisa e Impacto Social são responsáveis pela produção de informações e análises que subsidiam campanhas e novas políticas públicas e corporativas; e o Programa de Educação e Políticas Públicas está voltado para difusão de conteúdos sobre direitos e intercâmbio de conhecimento, envolvendo acadêmicos, educadores, trabalhadores e lideranças comunitárias.

A Repórter Brasil tem suas contas analisadas por auditoria independente anualmente, que fica disponíveis na página de Transparência. Além disso, todas as informações sobre a organização, sua estrutura, atividades e contas estão disponíveis em reporterbrasil.org.br/quem-somos.

 

ÁREA I: PROGRAMA DE EDUCAÇÃO E POLÍTICAS PÚBLICAS 

Em 2024, o Programa de Educação se transformou em Programa de Educação e Políticas Públicas, agregando um novo braço de atividades relacionadas à incidência política, participação em fóruns de elaboração e formulação de políticas públicas e produção de conteúdo sobre temas como o trabalho escravo e outros correlatos. A seguir, as atividades estão relacionadas segundo as áreas de Educação e Políticas Públicas, mas tendo em vista que há forte intersecção entre elas.

As atividades da área de Educação se referem principalmente à implementação do Programa Escravo, nem pensar!.

1. Formações

O Programa de Educação e Políticas Públicas deu continuidade às formações para funcionários públicos, principalmente para aqueles da Assistência Social. Consolidou-se a metodologia de formação para a Assistência Social em escala estadual por meio de processos continuados realizados nos estados do Mato Grosso do Sul, Rondônia e Amazonas.

O Programa teve dois ganhos relevantes em 2024. Nesse ano, realizou a sua primeira formação para profissionais da Segurança Pública, o que implicou no desenvolvimento de uma nova metodologia formativa. A iniciativa executada resultou na elaboração de um novo modelo pedagógico específico para esse público.  No mesmo período, criou uma metodologia específica para profissionais de organizações da sociedade civil com o intuito de fortalecer a atuação dessas instituições.

1.1. Escravo, nem pensar! no Amazonas – Formação para a Assistência Social – 2023/2024

Objetivo: Fortalecer a atuação da rede socioassistencial para o atendimento a vítimas de trabalho escravo, trabalho infantil e violações correlatas. Além das formações, foram promovidas oficinas intersetoriais em territórios estratégicos como Lábrea e Humaitá.

Beneficiários: 3.000 pessoas prevenidas do trabalho escravo em 49 municípios, sendo 358 profissionais da assistência social diretamente e indiretamente formados.

Parcerias: Secretaria de Estado de Assistência Social do Amazonas

Apoio: Ministério Público do Trabalho do Amazonas

Status: Finalizada

1.2. Escravo, nem pensar! no Mato Grosso do Sul – Formação para a Assistência Social – 2024

Objetivo: Qualificar profissionais do SUAS para identificação e atendimento de casos de trabalho escravo. A formação promoveu parcerias com órgãos de saúde, educação e trabalho, além de resultar em três novas denúncias formais de trabalho escravo.

Beneficiários: 2.332 pessoas prevenidas do trabalho escravo em 26 municípios, sendo 411 profissionais da assistência social diretamente e indiretamente formados.

Parcerias: Secretaria de Estado de Assistência Social e Direitos Humanos (SEAD-MS), Comissão Pastoral da Terra (CPT), Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e Confederação Nacional dos Trabalhadores Assalariados e Assalariadas Rurais (Contar).

Apoio: Departamento de Trabalho dos EUA (USDOL) e Organização Internacional do Trabalho (OIT)

Status: Finalizada

1.3. Escravo, nem pensar! em Rondônia – Formação para a Assistência Social – 2024

Objetivo: Ampliar a capacidade da rede socioassistencial para identificar, atender e encaminhar casos de exploração laboral. O projeto resultou em ao menos um atendimento a vítimas de trabalho escravo no curso da iniciativa. 

Beneficiários: 2.291 pessoas prevenidas do trabalho escravo em 39 municípios, sendo 410 profissionais da assistência social diretamente e indiretamente formados.

Parcerias: Colegiado Estadual de Gestores Municipais de Assistência Social de Rondônia (Coegemas-RO)

Apoio: Ministério Público do Trabalho de Rondônia

Status: Finalizada

1.4. Escravo, nem pensar! no Mato Grosso – Formação para a Segurança Pública – 2024

Objetivo: Capacitar delegados, investigadores e escrivães para o reconhecimento e encaminhamento de situações de trabalho escravo e crimes correlatos.

Beneficiários: 84 profissionais da Polícia Civil capacitados em 64 municípios.

Parcerias: Secretaria de Estado de Segurança Pública do Mato Grosso (Sesp-MT), Comissão Estadual de Erradicação do Trabalho Escravo do Mato Grosso (Coetrae-MT), Academia de Polícia Judiciária Civil de Mato Grosso (Acadepol-MT)

Apoio: Fundo Estadual de Erradicação do Trabalho Escravo do Mato Grosso.

Status: Finalizada

1.5. Escravo, nem pensar! na Amazônia – Formação para a Sociedade Civil – 2023/2024

Objetivo: Fortalecer a capacidade de organizações locais para prevenir a exploração laboral, articulando temas ambientais e trabalhistas. Foram desenvolvidos planos de ação locais e atividades de formação com comunidades vulneráveis.

Beneficiários: Representantes de oito organizações da sociedade civil atuantes no Sul do Amazonas e Sul e Sudeste do Pará.

Parcerias: Comissão Pastoral da Terra, Rede Transdisciplinar da Amazônia, Movimento Xingu Vivo, SóDireitos, ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), Cgtrae (Coordenação-Geral de Fiscalização para Erradicação do Trabalho do Ministério do Trabalho), Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (STTR) de São Félix do Xingu.

Apoio: Freedom Fund

Status: Finalizada

2. Produção de conteúdo do programa Escravo, nem pensar!

Em 2024, o programa Escravo, nem pensar! produziu e disponibilizou uma série de materiais pedagógicos e informativos, com foco na disseminação de conhecimento sobre o trabalho escravo contemporâneo e no fortalecimento das redes de prevenção. Foram lançadas oito publicações impressas e digitais, abordando temas como o ciclo do trabalho escravo, os impactos da pandemia sobre populações vulneráveis a esse crime, o perfil de trabalhadores imigrantes resgatados e experiências locais de enfrentamento ao problema. Os materiais dialogam com diferentes públicos – educadores, profissionais da assistência social, gestores públicos e a sociedade civil em geral – e foram utilizados como subsídio nos processos formativos do programa.

Complementando a produção editorial, foi lançado um documentário sobre a relação entre degradação ambiental e trabalho escravo na Amazônia, com foco nas experiências formativas em Amazonas e Rondônia.

Produção de Conteúdo

O fascículo apresenta etapas comuns às jornadas de trabalhadores escravizados no Brasil, como a vulnerabilidade socioeconômica no local de origem, o aliciamento e a migração para a frente de trabalho em que são explorados. Mostra ainda o caminho percorrido por aqueles que conseguem escapar dessa violação, desde a denúncia, passando pela operação de fiscalização até o resgate pelas instituições responsáveis.

Tiragem: 3 mil unidades

Parceria: The Freedom Fund

A publicação sistematiza as principais práticas pedagógicas adotadas por escolas mato-grossenses para prevenir o trabalho escravo. Na ação, o ENP! formou 3.176 educadores/as, 2.308 funcionários/as, 141.056 alunos/as e 36.915 pessoas da comunidade extraescolar, com o envolvimento de 340 escolas de 78 municípios do Mato Grosso. Ao todo, a iniciativa preveniu 183.455 pessoas do trabalho escravo.

Parcerias: Comissão Estadual de Erradicação do Trabalho Escravo do Mato Grosso, Fundo Estadual de Erradicação do Mato Grosso e Secretaria de Estado de Segurança Pública do Mato Grosso.

Guia explicativo voltado ao público geral e às redes de atendimento a vítimas sobre identificação e canais de denúncia de trabalho escravo.

Tiragem: 10 mil unidades

Parceria: The Freedom Fund

O caderno apresenta os principais resultados dos projetos de prevenção ao trabalho escravo desenvolvidos nos estados do Amazonas e Rondônia. A iniciativa preveniu ao todo 5.291 pessoas do trabalho escravo, sendo 768 profissionais do SUAS, em 87 municípios.

Tiragem: 3 mil unidades

Parcerias: Colegiado Estadual dos Gestores Municipais de Assistência Social de Rondônia (Coegemas-RO), Secretaria de Estado de Assistência Social do Amazonas (Seas-AM), Rede Transdisciplinar da Amazônia (Reta), The Freedom Fund e Ministério Público do Trabalho.

A publicação visa subsidiar profissionais do Sistema Único de Assistência Social (SUAS) para que atuem em casos de trabalho escravo. Para isso, oferece orientações sobre o atendimento a trabalhadores resgatados desse crime de acordo com as atribuições e prerrogativas institucionais da rede socioassistencial. Tais diretrizes são subsidiadas por boas práticas implementadas nas redes socioassistenciais dos estados do Maranhão, Rio de Janeiro, Rondônia e do Distrito Federal. Por fim, apresenta sugestões de abordagens preventivas do problema com base em experiências exitosas da rede socioassistencial dos 24 municípios nas regiões de Passos e Patos de Minas, em Minas Gerais, que receberam formação do programa Escravo, nem pensar! sobre a temática em 2023 e que concentram parte significativa dos registros de trabalho escravo nos últimos anos, sobretudo no setor do café.

Tiragem: 3 mil unidades

Parcerias: Secretaria de Desenvolvimento Social de Minas Gerais

Apoio: Global Fund to End Modern Slavery e Departamento de Estado do Governo dos Estados Unidos.

Retrata a relação entre o processo de escravização de trabalhadores na Amazônia e a degradação ambiental do bioma. Também apresenta as intervenções da Repórter Brasil sobre o problema, com foco na prevenção da exploração laboral por meio da formação de servidores públicos.

3. Área de Políticas Públicas

3.1. Representações em instâncias participativas

Em 2024, a Gerência de Educação e Política Pública representou a Repórter Brasil, enquanto membro da sociedade civil, nas Comissões para Erradicação do Trabalho Escravo em três níveis federativos: nacional, estadual e municipal, sendo as duas últimas referentes ao estado e ao município de São Paulo.

  • Conatrae (Comissão Nacional para a Erradicação do Trabalho Escravo)

Em 2024, a Repórter Brasil participou de todos os eventos, reuniões e debates concernentes ao espaço da Conatrae com especial destaque para o processo de elaboração do III Plano Nacional para Erradicação do Trabalho Escravo. Nesse contexto, a Repórter Brasil foi convidada a participar do Comitê Diretivo desse processo na qualidade de especialista devido à sua experiência e conhecimento na agenda de trabalho escravo no Brasil.

  • Coetrae-SP (Comissão Estadual para a Erradicação do Trabalho Escravo de São Paulo)

Em 2024, a Repórter Brasil participou das discussões para a criação do Fundo Estadual de Erradicação do Trabalho Escravo em São Paulo. O objetivo do Fundo é viabilizar o financiamento contínuo e sustentável das ações de prevenção, repressão e assistência às vítimas no estado. A proposta de criação do Fundo foi liderada pela Comissão Estadual para a Erradicação do Trabalho Escravo de São Paulo (Coetrae-SP), que elaborou a minuta do projeto. Em 2025, o projeto deve ser apreciado pela Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo.

  • Comtrae-SP (Comissão Municipal de Erradicação do Trabalho Escravo de São Paulo)

Em 2024, a Repórter Brasil integrou o Ciclo de Formações da Comtrae-SP, iniciativa dedicada à capacitação dos membros do colegiado ao longo de seis meses. O objetivo foi fortalecer a implementação do Fluxo Municipal de Atendimento à Pessoa Submetida e/ou Vulnerável ao Trabalho Escravo, qualificando os órgãos e entidades da Comissão. Em junho, a Repórter Brasil conduziu a primeira formação, abordando os fundamentos conceituais do trabalho escravo e o histórico da política pública de erradicação do trabalho escravo.

3.2. Projeto Perfil Resgatado

Em 2024, a Repórter Brasil inaugurou o projeto “Perfil Resgatado – Rotas migratórias e a morfologia do trabalho escravo no Brasil”. Essa iniciativa de tratamento e análise de dados mapeia os fluxos migratórios de trabalhadores submetidos ao problema, conectando as origens e os destinos de exploração dos resgatados. Também analisa dados sobre gênero, raça, idade e escolaridade das vítimas, bem como das atividades econômicas em que foram escravizadas.

O levantamento visa a subsidiar políticas públicas para a erradicação do trabalho escravo, prevenindo novas violações e garantindo a integração social e econômica dos resgatados. O projeto é uma realização da Repórter Brasil em parceria com a Secretaria de Inspeção do Trabalho do Ministério do Trabalho e Emprego.

4. Produção de conteúdo

A série de infográficos apresenta dados sobre mulheres escravizadas no período entre 2021 e 2023. São reunidos perfis de raça, escolaridade, faixa etária, local de resgate, atividade de resgate e nacionalidades.

Tiragem: virtual

Apresenta dados e tendências recentes sobre o trabalho escravo no Brasil após a pandemia. São exibidos dados gerais do Brasil e dos principais estados em que o problema ocorre: Minas Gerais, São Paulo, Bahia, Goiás, Pará, Maranhão e Mato Grosso.

Tiragem: virtual

O dossiê apresenta dados inéditos a respeito dos múltiplos perfis de trabalhadores resgatados não-brasileiros entre os anos de 2010 e 2023. A publicação traz os principais países de origem dessas pessoas, o seu gênero, a faixa etária e a escolaridade. Também identifica os setores produtivos que se beneficiam do uso de mão de obra escravizada e os locais do país em que isso é mais frequente. O levantamento supera a inexistência de informação disponível ao público sobre os migrantes internacionais resgatados no Brasil. Além dos resultados quantitativos da pesquisa, a publicação traz análises de representantes de instituições do Estado e da sociedade civil sobre os temas do trabalho escravo e tráfico de pessoas.

Tiragem: 1500 unidades

Parcerias: Secretaria de Inspeção do Trabalho do Ministério do Trabalho e Emprego e Ministério Público do Trabalho

5. Produção acadêmica

As produções acadêmicas da Gerência de Educação e Políticas Públicas, bem como aquelas publicadas por outros atores e que tratam da Gerência, estão disponíveis na seção Pesquisa acadêmica, da Biblioteca Virtual do ENP!. Em 2024, foram produzidos novos artigos acadêmicos:

  • SUAS e Política Nacional de Erradicação do Trabalho Escravo: coordenação entre ações da Assistência Social e resgate de trabalhadores escravizados

O artigo analisa a correspondência entre os municípios com mais atendimentos de vítimas de trabalho escravo, realizados pelas unidades do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), e os municípios de ocorrência de trabalho escravo e os de residência de trabalhadores resgatados pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) nos estados de Bahia, Maranhão, Minas Gerais e São Paulo. O objetivo é verificar a coordenação entre as políticas da Assistência Social e do Trabalho para o combate ao trabalho escravo. Para tal, foram coletados dados do Censo SUAS do Ministério de Desenvolvimento Social e dos relatórios de fiscalização contra o trabalho escravo do MTE entre 2020 e 2023. Esses dados foram sistematizados, cruzados e analisados. Os resultados indicam correspondência entre as ações da Assistência Social e o resgate de trabalhadores nos estados do Maranhão e Minas Gerais e dissociação nos estados da Bahia e São Paulo. 

Palavras-chave: Trabalho escravo; assistência social; políticas públicas; federalismo

Autoria: Natália Suzuki, Rodrigo Teruel e Vitor Camargo de Melo

Apresentado em: XVII Reunião Científica “Trabalho Escravo Contemporâneo e Questões Correlatas”, vinculado à UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), em outubro de 2025.

  • Migrantes de origem paraguaia resgatados do trabalho escravo no Brasil

A proposta deste artigo é apresentar o perfil de trabalhadores paraguaios resgatados do trabalho escravo no Brasil, analisando a quantidade, as atividades econômicas envolvidas e os estados brasileiros em que ocorreram os resgates. A metodologia será baseada na pesquisa bibliográfica e na análise da base de dados da Repórter Brasil, sendo o artigo resultado das reflexões desenvolvidas durante a elaboração do Dossiê ENP! #1: Trabalho Escravo e Migração Internacional (2024). O primeiro resgate de trabalhadores migrantes internacionais no Brasil se deu em 2006, em Campo Grande/MS, envolvendo paraguaios na atividade da pecuária. Desde então, resgates de trabalhadores do Paraguai têm sido constantes em diferentes atividades, sobretudo na fabricação ilegal de cigarros, agropecuária e confecção. Mato Grosso do Sul e Rio de Janeiro são os estados em que se concentram os resgates.

Palavras-chave: Trabalhadores paraguaios; Migração internacional; Trabalho escravo; Brasil

Autoria: Tatiana Chang Waldman e Fernanda Banyan

Apresentado em: XVII Reunião Científica “Trabalho Escravo Contemporâneo e Questões Correlatas”, vinculado à UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), em outubro de 2025.

Previsão de publicação: 2026

 

ÁREA II: JORNALISMO E PESQUISA

Agência de jornalismo da Repórter Brasil

Ao longo de 2024, a Repórter Brasil publicou 233 matérias, divididas em seis editorias: direitos humanos, mundo do trabalho, povos tradicionais, questão agrária, socioambiental e trabalho escravo.

A equipe se focou na cobertura de conflitos por terra e de impactos socioambientais gerados por setores produtivos — agropecuária e mineração, principalmente — sobre comunidades tradicionais e populações vulneráveis.

Em outra frente de atuação, pela qual a Repórter Brasil é amplamente reconhecida, a equipe continuou mapeando o fornecimento de matérias-primas produzidas por empresários envolvidos em infrações trabalhistas e ambientais.

Ao longo de seus 23 anos de trajetória, a Repórter Brasil revelou dezenas de casos de frigoríficos brasileiros abastecidos por pecuaristas acusados de crimes ambientais e infrações trabalhistas.

Em 2024, os elos destes produtores com supermercados europeus e norte-americanos levou a um reconhecimento histórico para nossa equipe: o secretário-executivo, Marcel Gomes, foi um dos vencedores do Prêmio Goldman, conhecido como o “Nobel do Ambientalismo”. Foi a quinta vez em que um brasileiro levou a distinção.

O reconhecimento ao trabalho da Repórter Brasil veio após uma investigação de impacto significativo: seis grandes grupos varejistas de Bélgica, França, Holanda e Reino Unido suspenderam a venda de produtos de frigoríficos brasileiros, em razão de os animais terem sido criados em área desmatada ilegalmente. Em setembro, Gomes também foi escolhido pela Forbes um dos 50 líderes mundiais na área de sustentabilidade.

Os impactos gerados pelo nosso trabalho são o principal combustível do nosso jornalismo. Veja a seguir as reportagens da Repórter Brasil que geraram transformação real em 2024.

Impacto

Como ogronegócio avançou na Amazônia com Bolsonaro

No especial “Ogronegócio: milícia e golpismo na Amazônia”, nossa reportagem analisou pilhas de documentos e realizou dezenas de entrevistas, durante uma viagem de mais de 6 mil quilômetros pelos estados de Pará e Mato Grosso, para explicar como foi selada a aliança entre o bolsonarismo e a ala truculenta do agronegócio. 

Horas depois da publicação da primeira matéria, policiais militares e civis foram a campo para recolher porretes à venda em um posto de combustível no Pará. Os artefatos estavam grafados com as palavras “Respeito”, “Diálogo” e “Direitos Humanos”,  uma clara ode à violência. A comercialização dos “porretes do ódio” é crime de incitação a violência, segundo a investigação policial.

A ação truculenta da polícia do Pará e a queda de um delegado

Ainda no Pará, acompanhamos os desdobramentos de uma ação policial que deixou dois sem-terra mortos, em outubro. Agindo supostamente para desmantelar uma organização criminosa que estaria cobrando taxas dos sem-terra e cometendo outros crimes, agentes da Delegacia Especializada de Conflitos Agrários de Marabá (PA) entraram em uma fazenda ocupada por trabalhadores e, segundo relatos, dispararam enquanto eles ainda dormiam.

No fim de outubro, o Ministério Público do Pará passou a investigar a ação da polícia. Em novembro, o delegado responsável pela ação foi removido do cargo.

Passado, presente e futuro do povo Kayapó

O ano de 2024 também foi marcado pelo falecimento de Tuíre Kayapó Mẽbêngôkre, a guerreira que se tornou um símbolo da resistência indígena. No final da década de 1980, Tuíre tocou a lâmina do facão no rosto de um engenheiro da Eletronorte, durante audiência para discutir a construção de um complexo de hidrelétricas no rio Xingu. A foto do momento converteu-se em um símbolo, mostrando que os indígenas não aceitariam a destruição da floresta.

Mais de 30 anos depois, a destruição da floresta amazônica continua em progresso, sob protesto de comunidades tradicionais. O documentário “A floresta Kayapó em pé: Bá Kájmã Ãm” aborda a divisão interna entre as aldeias Kayapó que aceitam e as que expulsam os garimpeiros de ouro.

Em setembro, a Polícia Federal fechou o cerco contra suspeitos envolvidos na pilhagem da terra Kayapó. Um esquema bilionário de garimpos irregulares começou a ser desmantelado com a prisão de 13 suspeitos, incluindo um político e quatro policiais, que formavam uma “milícia garimpeira”.

Listas encontradas pelos investigadores sugerem ainda que candidatos a prefeito e a vereador da região foram financiados com o dinheiro do esquema, como mostrou a nossa cobertura especial das eleições municipais de 2024.

Venda ilegal de agrotóxicos na internet

Outra frente de investigação de destaque promovida pela Repórter Brasil tem como objetivo jogar luz sobre o mercado de agrotóxicos no país. Uma das principais potências agrícolas do mundo, o Brasil também é um dos maiores consumidores de pesticidas do planeta.

Uma reportagem publicada no mês de abril encontrou agrotóxicos comercializados irregularmente em dois dos maiores marketplaces do país: Mercado Livre e no Magazine Luiza. Os anúncios eram de responsabilidade de terceiros, mas especialistas questionaram as plataformas por não monitorarem adequadamente a venda de produtos que não poderiam ser livremente comercializados. Após o contato da reportagem, apenas o Magalu tirou os anúncios do ar.

Entre os produtos ofertados estava o Regent, da Basf, destinado exclusivamente ao uso em lavouras. Nas plataformas, contudo, ele era oferecido para combater pulgas, carrapatos, insetos e formigas. Seu ingrediente principal, o fipronil, é classificado como possivelmente cancerígeno, motivo pelo qual foi banido da União Europeia.

Usuários de drogas foram pagos com cachaça por trabalho de reciclagem

Em uma reportagem de ampla repercussão nacional, a Repórter Brasil revelou como a multinacional Novelis, maior recicladora de alumínio do mundo, comprou matéria-prima de uma empresa acusada de pagar com garrafas de cachaça o trabalho de dependentes químicos que atuam como catadores na Cracolândia, no centro da capital paulista.

Após a publicação da reportagem, a Novelis anunciou o rompimento das relações comerciais com o fornecedor e o Ministério dos Direitos Humanos abriu uma investigação formal sobre o caso.

Novo sistema para barrar irregularidades

O especial “Dossiê Seguros Agrícolas” revelou como multinacionais desse segmento garantiram cobertura para lavouras ilegais. As áreas ficam dentro de terras indígenas ou de fazendas embargadas por desmatamento, onde a produção agrícola de larga escala é proibida. As seguradoras também forneceram apólices para produtores incluídos na Lista Suja do trabalho escravo.

Todos os contratos foram pagos com o auxílio de um programa de subvenção do governo federal. Após a publicação do especial, o Ministério da Agricultura comprometeu-se a implementar um sistema de verificação de irregularidades socioambientais entre os produtores beneficiários. Segundo a pasta, o sistema entrará em vigor no primeiro trimestre de 2025.

Esta cobertura da Repórter Brasil foi reconhecida com o Prêmio Cláudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados 2024, na categoria “Investigação”.

Outra reportagem nossa sobre seguros agrícolas também levou a organização sem fins lucrativos Eko a lançar uma campanha para pressionar a seguradora suíça Swiss Re a parar de oferecer cobertura de seguros a fazendas com irregularidades ambientais.

Cobrança ao poder público fez prefeitura se movimentar

O especial ”Encurralados: os impactos do agronegócio sobre a fauna brasileira” identificou casos em que a morte de animais silvestres teve relação com as atividades agropecuárias no país. No Pantanal, a devastação do fogo deixa os animais sem garantia de comida e sem refúgio.

Já no Cerrado, três lobos-guará da mesma família se afogaram em canais de irrigação de uma fazenda de grãos no oeste da Bahia. Os canais são revestidos com uma lona escorregadia e não tinham, segundo o Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos da Bahia, proteção adequada para evitar a entrada dos animais.

Após a publicação da reportagem, o órgão ambiental do município realizou vistorias nas fazendas do entorno do parque para averiguar a segurança dos canais para a fauna.

Denúncias de trabalho infantil e pressão por regulamentação da indústria tech

Em 2024, a Repórter Brasil também deu início a uma cobertura sobre o trabalho infantil na indústria da tecnologia.

Com uma fronteira não delimitada entre diversão e trabalho, plataformas como a Roblox vêm despertando a preocupação de pais, especialistas e autoridades. Crianças e adolescentes passam horas do dia programando jogos que geram rendimentos para a empresa – mas pouco, ou mesmo nada, para eles.

A investigação mostrou ainda que comunidades do aplicativo de mensagens Discord são usadas para que os jovens ofereçam e encontrem trabalho na criação de games para a Roblox.

A investigação sem precedentes no Brasil vem sendo usada por organizações da sociedade civil para avaliar ações de litigância. Fundos de investimento de dentro e fora do país também afirmaram que o material está influenciando suas decisões a respeito de investimentos nas big techs.

Outra investigação da Repórter Brasil mostrou como plataformas como Kwai e TikTok também contam com a força de trabalho de crianças e adolescentes para treinamento de sistemas de inteligência artificial. As descobertas estão municiando debates sobre regulamentação de plataformas digitais, principalmente no que diz respeito à participação dos jovens.

 

Programa de Pesquisa

O Programa de Pesquisa e Impacto Social da Repórter Brasil, denominado Pesquisa Brasil, produziu trabalhos que geraram impactos positivos sobre a vida dos trabalhadores, a luta de comunidades tradicionais e a preservação ambiental, ao longo de 2024.

A criação de uma Coordenação de Impacto Social, com equipe própria, inclusive em Brasília, fortaleceu o diálogo com legisladores, membros do Judiciário e do Ministério Público, ampliando a difusão das investigações e análises publicadas.

Foram firmadas novas parcerias com organizações da sociedade civil, permitindo que cadeias produtivas de grandes empresas fossem escrutinadas e, em alguns casos, tornassem-se alvos de litígio judicial ou procedimento administrativo, inclusive no exterior.

A equipe do programa continuou investindo na construção de grandes bancos de dados. Essa estratégia garante não só que as investigações sejam feitas de modo mais célere, como, também, que se tragam informações mais detalhadas sobre o fluxo financeiro e de produtos entre empresas.

Os bancos de dados ajudam a revelar fatos antes desconhecidos sobre o comércio de soja, gado, milho, café, cacau, biocombustíveis, roupas, minerais, entre tantos outros bens. Tais informações, muitas vezes tratadas com sigilo, apesar de grande relevância pública, tornaram-se acessíveis em cada publicação feita pela Repórter Brasil.

Para 2025, a novidade será uma nova plataforma de dados financeiros, que permitirá o rastreamento de empréstimos e seguros agrícolas potencialmente vinculados a casos de violações aos direitos humanos e crimes ambientais no Brasil.

Entre as principais investigações realizadas em 2024, destacou-se o Monitor número 22, chamado “Escravizados do Etanol”. O trabalho discute contradições encontradas na produção do biocombustível.

Se, por um lado, ele é aclamado como alternativa sustentável aos combustíveis fósseis, por outro o etanol tem registros de mortes e trabalho escravo no cultivo de sua matéria-prima, a cana-de-açúcar. A publicação traz, ainda, dados sobre os investimentos internacionais no setor para ampliar o uso do biocombustível no setor automotivo e na aviação.

Junto a parceiros internacionais, o Pesquisa Brasil apoiou as investigações que resultaram em três edições do boletim internacional “Rapid Response”. Tais estudos monitoram o desmatamento recente nas cadeias de suprimentos de soja e gado no país.

O objetivo é trazer dados para permitir que se interrompa o desmatamento em seus estágios iniciais – empresas citadas optam por suspender negociações com fazendas envolvidas em incêndios recentes ou desmatamentos confirmados visualmente, uma iniciativa dura que, no fim, pressiona fornecedores por melhores práticas.

Em outra parceria internacional, o Pesquisa Brasil produziu e lançou o estudo “Fábricas de Acidentes”, sobre condições de trabalho insalubres e inseguras nos frigoríficos brasileiros. O trabalho informa que, mais de uma década após o governo estabelecer regras mínimas de saúde e segurança em frigoríficos, empregados da indústria da carne sofrem quatro vezes mais acidentes do que em outras áreas.

Para realizar o estudo, a equipe foi a campo e realizou 63 entrevistas com empregados e ex-empregador de frigoríficos para ouvir suas avaliações sobre o serviço. A grande maioria (84%) dos entrevistados disse ter doenças relacionadas às atividades laborais, e muitos deles (40%) sofreram acidentes de trabalho.

Em 2024, realizamos ainda uma nova pesquisa sobre os impactos da mineração do níquel sobre o povo indígena Xikrin, no Pará. A investigação demonstrou que os conflitos entre a comunidade e a empresa responsável pela mina, a Vale, continuam exigindo mediação de atores externos, como o Ministério Público.

Apesar de um plano de ação ter sido feito, um dos principais problemas relacionados ao projeto mineral, a contaminação de recursos hídricos na área indígena, continua sem solução. A Repórter Brasil revelou que a persistência do litígio levou uma empresa europeia a suspender as importações do níquel ali processado.

Ainda na região amazônica, informações disponíveis nos bancos de dados do Pesquisa Brasil serviram de base para um estudo do Center for Climate Crime Analysis (CCCA) sobre fazendeiros que alteram o Cadastro Ambiental Rural (CAR) para eliminar do perímetro declarado registros de infrações ambientais como embargos do Ibama e sobreposições com terras indígenas.

Assim, os proprietários evitam novas multas e restrições para a obtenção de financiamentos com recursos públicos, pois as regras do Banco Central vedam a concessão de crédito para propriedades com áreas embargadas ou sobrepostas a unidades de conservação. Após a publicação da pesquisa, autoridades públicas passaram a suspender o CAR e propriedades que haviam feito alterações irregulares no CAR.

As atividades do Pesquisa Brasil também geraram impactos no exterior. Na Suíça, a ONG Eko lançou uma campanha para pressionar a seguradora suíça Swiss Re a parar de oferecer cobertura de seguros a fazendas com irregularidades ambientais.

A ação, com coleta de 75 mil assinaturas, teve como base uma investigação do Pesquisa Brasil que mostrou que grandes seguradoras ofereceram cobertura a empreendimentos com plantio em áreas embargadas por desmatamento ilegal ou sobrepostas a áreas indígenas.

E, nos Estados Unidos, uma investigação do Pesquisa Brasil foi citada em um processo judicial movido contra a Starbucks Corporation pela organização National Consumers League. A pesquisa havia mostrado que fazendas envolvidas em casos de trabalho escravo e infantil integravam o C.A.F.E. Practices, programa de aquisição ética de café da multinacional americana Starbucks.

O relatório “Por trás do café Starbucks”, disponível em inglês e português, investigou violações trabalhistas e de direitos humanos em quatro propriedades de Minas Gerais. A ação judicial afirma que a multinacional lesa os consumidores americanos ao promover uma propaganda enganosa de “aquisição 100% ética” do café e chás vendidos em suas lojas.

A companhia e sindicatos de trabalhadores norte-americanos iniciaram uma mesa de negociação após o início do litígio. O processo judicial contra a Starbucks e a investigação da Repórter Brasil tiveram ampla repercussão na mídia dos Estados Unidos, sendo mencionada em reportagens publicadas por veículos como NBC, Forbes e CNN.

RedLabora

Em abril, o comitê consultivo da RedLabora, rede internacional de jornalistas do trabalho, se reuniu em São Paulo para definir seus objetivos específicos e planejar os próximos passos. A rede foi criada pela Repórter Brasil, com o apoio do Solidarity Center e da Confederação Sindical das Américas (CSA), com o propósito de qualificar e incentivar a produção de conteúdo sobre esse assunto nos meios de comunicação de diferentes países. O comitê consultivo é formado por 14 integrantes, de 8 países da região (Argentina, Brasil, Equador, Peru, Colômbia, Guatemala, Honduras e República Dominicana).

Na reunião, que contou com a participação de representantes de confederações sindicais da América Latina, foram definidos os temas prioritários da atuação da RedLabora: direitos humanos, em especial os direitos trabalhistas; crise ambiental, mudanças climáticas e Amazônia; multinacionais e cadeias produtivas; migrações; tecnologias contemporâneas e direitos digitais (aplicativos, plataformas digitais, inteligência artificial). Ao longo de 2024, a rede realizou uma série de atividades balizadas por esses temas. 

A rede ofereceu duas bolsas para a realização de reportagens aprofundadas sobre trabalho na América Latina. Foram recebidas, ao todo, 143 propostas, de 14 países da região, apresentadas por 213 profissionais. As proposta ganhadoras foram: Ser guarda-parque no Peru: um trabalho de alto risco e com direitos precarizados (Salud com Lupa, Peru), e uma série intitulada “Cortadores Digitais” (Núcleo, Brasil), dividida em três partes,  Kwai paga centavos para editores de vídeo plagiarem conteúdos de crianças, Como coaches induzem pessoas a divulgarem seus vídeos de graça nas redes e Como o Kwai virou um amontoado de conteúdo pirata.

Também apoiou financeiramente a realização de três grandes reportagens sobre o mundo do trabalho na região, realizadas por integrantes do comitê consultivo: Assim os call centes destroem os corpos e as esperaçnas dos jovens em Honduras (Honduras), Custo político social do sindicalismo na Guatemala. Caso: Sindicato de Trabalhadores Bananeiros de Izabal (Guatemala), e O custo da agroexportação: trabalhadoras expostas a violência, doenças e esquecimento por parte do Estado (Peru).

Além disso, a RedLabora organizou a formação Direitos trabalhistas na América Latina: marco jurídico, cadeias de produção e conduta responsável das empresas, ministrada por Charles Autheman, dividida em dois encontros, um em outubro e o outro em novembro. Foram recebidas mais de 270 inscrições, de jornalistas de 9 países da região.  

Aliança pelos Direitos Humanos em Cadeias Produtivas

No ano de 2024, a Aliança pelos Direitos Humanos em Cadeias Produtivas, por meio da construção de um grupo de trabalho, elaborou um plano de ação (2024-2027), em torno de três objetivos principais:  1) Incidir sobre políticas públicas voltadas para a efetivação de um marco regulatório de devida diligência e direitos humanos no Brasil; 2) Aumentar a base de conhecimento sobre cadeias produtivas e direitos humanos; e 3) Promover o engajamento de atores sociais na agenda de direitos humanos e empresas. 

Dentre as principais frentes de atuação no ano, destaca-se a interlocução com o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC) no processo de construção da Política Nacional de Direitos Humanos e Empresas (PNDHE). A Aliança participou de forma ativa nessa construção, por meio de reuniões com representantes do ministério, participação em oitivas, mesas de diálogos e eventos autogestionados, e elaboração de documentos de recomendações para subsidiar o MDHC. 

A partir da troca de gestão do ministério, o enfoque do grupo voltou-se para pressionar a nova gestão a dar continuidade à política. Assim, em novembro, a Aliança encaminhou uma carta à nova ministra, Macaé Evaristo, destacando a importância de manter a PNDHE como pauta prioritária do ministério, passando a acompanhar de perto as movimentações a respeito.

 

ÁREA III: ARTICULAÇÃO

A Repórter Brasil participa ativamente de atividades e iniciativas com o objetivo de ampliar e aprofundar o combate ao trabalho escravo contemporâneo e ao tráfico de pessoas, juntamente com o enfrentamento a violações dos direitos socioambientais. Para tanto, a organização desenvolve uma estratégia de articulação com os mais variados atores, públicos ou privados, envolvidos nessas temáticas nos âmbitos municipal, estadual, nacional e internacional.

Atuamos para garantir a defesa dos direitos humanos e a dignidade de diversas populações, bem como buscamos evitar a utilização de justificativas sociais no erguimento de barreiras comerciais de natureza protecionista contra setores econômicos brasileiros no exterior. Nesse sentido, a organização tem contribuído com o desenvolvimento de políticas para a erradicação de um conjunto de violações econômicas, sociais e políticas.

Através de diálogos com empresas e associações empresariais, a organização atua no combate às violações aos direitos humanos em diferentes níveis. Apoiamos ações para a formação de atores públicos (como magistrados, auditores e procuradores), econômicos e sociais (como sindicatos). E, para além dos tradicionais diálogos em comissões que lidam com o tema e com os atores do campo, acompanhamos as tentativas de desmonte de políticas públicas relacionadas ao trabalho escravo e ao meio ambiente em Brasília.

A Repórter Brasil, através de sua equipe fixa na capital federal, dialogou com membros do Legislativo, Executivo e de associações de classe, bem como fortaleceu vínculos com organizações sindicais de trabalhadores. Dessa maneira, as pesquisas e análises da Repórter Brasil puderam influenciar o debate sobre o modelo de desenvolvimento brasileiro.

1. Internacional

Em 2024, a Repórter Brasil aprofundou sua presença e interlocução em fóruns internacionais relevantes para os temas de direitos humanos, sustentabilidade e responsabilidade corporativa.

Neste ano, o secretário-executivo da organização esteve nos Estados Unidos para uma série de compromissos institucionais. Representou a instituição e foi vencedor da cerimônia do Prêmio Goldman de Meio Ambiente em San Francisco e Washington D.C., oportunidade em que se conectou com lideranças globais da agenda socioambiental. Em Stanford, conduziu também uma reunião com um professor especialista em sustentabilidade da Universidade, ampliando os diálogos com o meio acadêmico internacional. Na capital americana, contribuiu como liderança no seminário promovido pela World Resource Initiative (WRI) e articulou encontros de alto nível com lideranças do Departamento de Estado e com a vice-presidente Kamala Harris, na Casa Branca.

A Repórter Brasil marcou presença na Semana do Clima de Nova York, em setembro, com participação ativa nos eventos organizados por Global Witness, Climate Rights Initiative, CLUA e Forbes. A atuação da organização contribuiu decisivamente para o fortalecimento de articulações multilaterais e para a ampliação de sua incidência internacional nas agendas de clima, direitos humanos e cadeias produtivas globais.

Além disso, Marcel Gomes também representou a organização em Montevidéu, no evento promovido pelo Solidarity Center e sindicatos globais, ampliando o debate regional latino-americano sobre trabalho decente e responsabilidade corporativa.

Paralelamente, o presidente, Leonardo Sakamoto, da Repórter Brasil atuou de forma ativa em ações internacionais voltadas à defesa dos direitos humanos e à erradicação do trabalho escravo. Entre os destaques está sua participação, no Brazil Forum UK, em junho de 2024, realizado em Oxford, Inglaterra, onde tratou do enfrentamento ao trabalho escravo contemporâneo e discutiu os desafios para a promoção do trabalho decente no país.

Em setembro de 2024, o presidente da Repórter Brasil participou de um evento realizado pela organização Freedom Fund, em Nova York, onde atualizou membros da sociedade civil norte-americana sobre o enfrentamento ao trabalho escravo no Brasil e sua relação com a questão climática. E representou a Repórter Brasil em reuniões paralelas à Assembleia Geral da ONU, promovendo o diálogo com representantes de governos e da sociedade civil, visando ampliar a articulação internacional e fortalecer as estratégias de cooperação no combate às violações de direitos humanos.

A atuação internacional da presidência também incluiu a condução como moderador e facilitador da 1ª Oficina Internacional: Diálogo e Cooperação Sul-Sul de Países da CPLP sobre Justiça do Trabalho, organizada pelo Tribunal Superior do Trabalho (TST), Organização Internacional do Trabalho (OIT) e Ministério das Relações Exteriores (MRE), em Brasília. O diálogo reuniu representantes de diversos países lusófonos para discutir desafios e boas práticas no campo dos direitos trabalhistas e da migração.

Em 14 novembro de 2024, foi palestrante na Loyola Marymount University, em Los Angeles, Califórnia, no Departamento de Ciência Política e Relações Internacionais. Na ocasião, abordou a relação entre trabalho escravo e mudanças climáticas, destacando a necessidade de uma abordagem integrada para enfrentar essas crises globais.

2. Outras atividades

2.1. Formações e incidência

O diálogo para formação e incidência com entidades e organizações da sociedade civil são parte importante do compromisso da Repórter Brasil com a publicização das situações que ferem direitos trabalhistas e causam danos socioambientais no Brasil, visando à mobilização de lideranças sociais, políticas e econômicas para a construção de uma sociedade de respeito aos direitos humanos, mais justa, igualitária e democrática.

Em março de 2024, a secretaria-executiva participou de seminário promovido pelo ABA-Roli e o Ministério Público Federal (MPF), realizado online, que reuniu especialistas e operadores do direito para discutir desafios e estratégias de enfrentamento ao trabalho análogo à escravidão no Brasil. Também assumiu papel no evento promovido pela Rainforest Foundation Norway sobre cadeias da carne, realizado em São Paulo, contribuindo com dados e análises sobre os impactos socioambientais do setor.

Em agosto, a secretaria-executiva desempenhou função relevante no seminário promovido pela Global Witness e organizações parceiras, em São Paulo, com foco no setor financeiro e seu papel na promoção de práticas sustentáveis e no combate a violações de direitos.

Encerrando o ano, em dezembro, integrou um seminário realizado na Embaixada da Noruega, em Brasília, fortalecendo os laços institucionais com parceiros estratégicos e aprofundando o diálogo sobre políticas públicas e cooperação internacional.

Por sua vez, no campo das formações, a presidência da Repórter Brasil atuou no Seminário “Direito Fundamental ao Trabalho Decente: Caminhos para a Erradicação do Trabalho Escravo Contemporâneo”, realizado entre os dias 26 e 28 de fevereiro de 2024 em Bento Gonçalves (RS). O evento, promovido por instituições como o TST, ENAMAT e CNJ, abordou estratégias de prevenção, responsabilização empresarial, reparação e o papel das instituições públicas na promoção do trabalho decente.

Em março de 2024, Leonardo Sakamoto participou de um evento promovido pelo Tribunal Superior do Trabalho (TST), em Brasília. Na ocasião, contribuiu com reflexões sobre os desafios do combate ao trabalho escravo e a importância da atuação conjunta entre instituições públicas e a sociedade civil para a garantia dos direitos trabalhistas.

Em maio de 2024, Sakamoto esteve em Campo Grande, onde ministrou palestra no Tribunal Regional do Trabalho (TRT) da 24ª Região, abordando questões relacionadas ao enfrentamento do trabalho escravo e à promoção dos direitos humanos no Brasil. E também realizou uma palestra na Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS), discutindo temas como democracia, pluralismo e os impactos da desinformação na sociedade contemporânea.

No mês de maio, também, Leonardo Sakamoto participou do Seminário sobre Trabalho Escravo Contemporâneo, realizado no auditório do Pleno do Tribunal Regional do Trabalho da 5ª Região (TRT-5), em Salvador, na Bahia. O evento, também transmitido ao vivo pelo YouTube, discutiu o conceito de trabalho escravo, políticas públicas e a responsabilização em cadeias produtivas. Sakamoto contribuiu com análises e reflexões sobre os desafios atuais no combate a essa prática, destacando a importância de ações integradas para sua erradicação.

Durante o Encontro Nacional de Juventudes, Comunicação e Participação, realizado no Sesc Consolação, em setembro, o presidente da Repórter Brasil ministrou palestra na conferência “Comunicação para transformar o mundo”, refletindo sobre como as juventudes podem utilizar as novas e tradicionais tecnologias da informação para impulsionar causas sociais, promover justiça e fortalecer a cidadania democrática.

2.2 Imprensa, pesquisa e sociedade civil

A Repórter Brasil seguiu atendendo demandas de veículos nacionais e estrangeiros, em entrevistas, resolução de dúvidas e outros pedidos sobre os temas com os quais a organização trabalha. Além disso, deu andamento a solicitações de informações e entrevistas de pesquisadores e estudantes das mais diferentes unidades de ensino do país e do mundo. Essa relação com a imprensa, a sociedade civil e a academia é parte fundamental das atividades da organização, já que permite não apenas trocas de experiências, mas também pela própria inserção e difusão do tema no debate público.

Como parte dessas ações, em agosto, a secretaria-executiva representou a organização no festival Ecofalante, um dos principais eventos audiovisuais sobre meio ambiente e direitos humanos do país, onde contribuiu para um debate sobre os impactos da mineração na água e nos territórios. Sua participação reforçou o compromisso da Repórter Brasil com a difusão de conhecimento e o fortalecimento do diálogo com a sociedade civil, pesquisadores e formadores de opinião.

De modo semelhante e com o objetivo de fortalecer o diálogo com a sociedade civil, a presidência da Repórter Brasil teve papel central em diferentes eventos com foco em cultura, direitos humanos e mobilização social. Em janeiro, ele participou de debate sobre o documentário Servidão no CineSesc, em São Paulo, contribuindo com o debate após a exibição e promovendo a reflexão sobre o trabalho escravo no Brasil atual.

Em novembro de 2024, Sakamoto participou de um debate promovido pelo Grupo de Pesquisa Trabalho Escravo Contemporâneo (GPTEC) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde contribuiu com sua experiência e reflexões sobre o enfrentamento ao trabalho escravo no Brasil, fortalecendo o diálogo acadêmico e social sobre o tema.

Para concluir, em 10 de dezembro, data em que se celebra o Dia Internacional dos Direitos Humanos, a presidência da Repórter Brasil articulou uma conversa no Sesc Bauru, dentro do projeto Vez e Voz, com o tema “Direitos Humanos: Caminhos para a prática da defesa da dignidade humana”. O evento promoveu um espaço de escuta, reflexão e diálogo sobre justiça social, diversidade e os desafios contemporâneos da luta por direitos humanos no Brasil.

3) Desinformação e notícias falsas

A Repórter Brasil segue comprometida com o combate à desinformação e às notícias falsas, especialmente quando esses conteúdos distorcem debates públicos relevantes sobre direitos humanos, meio ambiente, trabalho escravo e outras violações sociais. Como parte da missão de qualificar o debate público e promover o acesso à informação de qualidade, a organização atua ativamente na produção e disseminação de conteúdos verificados, pautados por dados e evidências.

Nesse contexto, a Repórter Brasil continua hospedando o projeto Vaza, Falsiane, uma iniciativa de formação para o enfrentamento da desinformação, voltada principalmente a jovens, educadores e comunicadores. A organização apoia a articulação do projeto, fortalece ações educativas, colabora com estratégias de ampliação de seu alcance e também presta serviços de supervisão do curso e produção de conteúdos em vídeo.

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